TORRADAS E CERVEJAS

Os faróis do carro me abriam espaço no escuro da estrada. Viajei a noite toda.

Quando chego em casa, ouço o som a todo volume dentro do apartamento. Saco a chave, abro a porta, largo minha bolsa sobre o sofá e invado o quarto que está com a porta encostada. Cristina, minha mulher, finge que dorme, nua, sob as cobertas.

Cristina me seguiu até o banheiro.

Liguei o chuveiro. A água gostosa caía sobre o meu corpo. Cristina entrou no box. Com gosto de pasta de dente na boca. Lhe abracei. Agarrei seus cabelos molhados e lhe beijei o rosto, a boca, o pescoço, os seios... fui baixando com minha língua roçando sua barriga e comecei a beijar suas coxas e nádegas molhadas.

Desliguei o chuveiro e arrastei Cristina para a cama. Estávamos molhados. Deitei meu corpo sobre o dela e lhe abracei com ternura e excitação. Comecei a mexer. Ela me envolveu com suas pernas de cabelinhos amarelos e gemeu com os olhos fechados. E eu mais forte. Era uma transa selvagem. Havia um sentimento de animal, aquela violência, e ela gostava, gemia, com seus olhos fechados. Procurei seu pescoço e não pude mais conter o gozo. Dei um suspiro e rolei pela cama.

Voltei para o chuveiro e acabei meu banho. Enquanto ela tomava o seu, preparei umas torradas e coloquei o leite no fogo.

- Eu te amo, cara- ela me disse, com o cabelo molhado.Estava com saudades. E Você?

- Pois eu também, e te amo, repondi com a boca cheia de rango.

- Tu me ama sim senhor! falou Cris, com voz sensual no meu ouvido, enfiando sua língua lá dentro.

Levantei. bebi o último gole da leiteira e terminei de mastigar um pedaço da torrada. Vou sair por aí, para ver a cidade, anunciei à minha mulher e me vesti.

- Tu está louco? Recém chegou! Fica em casa um pouco. Vai ver TV, escutar um som, descansar! ela gritou.

Me calcei e caí fora. A cidade recém estava acordando. Relaxar a mente, para mim, era caminhar.

Quanta venda eu teria que realizar nos próximos dias, eu pensava, enquanto caminhava entre as pessoas apressadas para não perderem o horário do trabalho. Eu conhecia a mulher que tinha. A minha vida estava muito fácil. Apesar da miséria generalizada, eu possuia um trabalho que não me deixava morrer. Mas a decadência aos poucos vai se acentuando na minha aparência. Eu tinha parado de adquirir novas roupas e calçados. Só comprava quando estava precisando mesmo. Apenas fechava minhas contas.

Parei num bar e pedi uma cerveja.

O ronco dos ônibus começava a poluir a manhã.

II

- Andam dizendo por aí que os milicos vão dar um golpe de estado, comentou comigo um carinha que bebia uma cachaça pura àquela hora no balcão.

Fiquei quieto. Não dei conversa para o desgraçado beberrão de cara vermelha e barba branca.

- Vão fechar os botecos cedo e não vai sobrar vagabundo nas ruas, continuou o cara.

Eu não queria saber de política. Eram todos a mesma coisa quando no poder. Burro o povo... elegia políticos na maioria incompetentes... corruptos... grande parte do povo fazia parte ativa desta corrupção, vendia o voto.

Continuei bebendo minha cerveja e olhando o movimento da rua. O cara vermelha da cachaça puxou papo com uma dona que bebia um guaraná que dizem que é puro e natural.

Nisso entra um antigo companheiro meu. Ede. Nos abraçamos, nos surpreendemos do tempo que a gente não se enxergava e bebemos mais cervejas. Pra nós tinha motivo. Um reencontro.

Ede foi meu companheiro quando vivíamos na merda. Morávamos numa pensão "familiar" na rua Voluntários da Pátria. Passava uma média de 10 ônibus por minuto na esquina onde ficava nosso quarto pulguento. Ele trabalhava nos primeiros computadores do INPS e eu começava no ramo de vendas. Vendia livros, assinaturas de revistas, jornais... e me defendia da miséria

Na época eu obtinha algum lucro com meus negócios e aprendia a arte de convencer um cidadão ou cidadã a comprar cultura e informação. Hoje Ede era funcionário público bem colocado, passou num concurso, vivia com uma mulher e seus dois filhos num apartamento seu que ele pagava uma mensalidade barbada.

Parecia feliz, o Ede, mas entristeceu de repente e me confessou: "Perdi meu pai. Morreu no mês passado. Estava há mais de ano doente, depois de sofrer um derrame cerebral que lhe paralisou todo o lado esquerdo. Eu e meus irmãos estávamos preparados psicologicamente para sua morte, mas quando aconteceu sofremos muito. Estávamos acostumados a lhe ver todos os dias, deitado na cama, sentado na cadeira de rodas, mas vivo. Não aceito a tese de que ele descansou. Eu preferia ver ele doente mas vivo. Agora nunca mais vou ver meu pai".

- Isto realmente é muito triste. Como tu, também já perdi meu pai. Eu tinha 12 anos e ele morreu em acidente de carro. Bebeu numa festa e dormiu na direção. Numa curva capotou e se espatifou numa árvore. Foi a notícia mais triste da minha vida. Ele nunca mais pode me levar para pescar, para jogar futebol na praia, para brincar no carnaval infantil... pois deixou de existir... Levei anos para me acostumar com sua ausência. Passei os primeiros meses só pensando nele, sonhando com ele e chorava quando olhava suas fotos. Com 16 anos entendi que eu tinha que viver e ser feliz, em homenagem a ele. Foi quando concluí o 2º grau no colégio e vim para a capital trabalhar. Minha mãe e minha irmã ficaram lá na nossa cidade do interior, morando na nossa casa que o pai construiu antes de morrer, e recebendo a pensão a que tivemos direito pela sua atividade como funcionário do Banco do Estado. Até hoje eu ainda tenho dúvidas se ele passou desta vida para uma melhor, se realmente existe outra vida após a morte... estas coisas de espiritismo... Às vezes me parece que a morte é o ponto final do humano, sei lá!!!

- Então esquece. Nós ainda estamos vivos. Vamos tomar a saideira. Pedimos outra cerveja.

Caminhamos pela calçada até a esquina e nos despedimos. Cada um voltava para seu próprio mundo.

III

Cheguei em casa e Cristina não estava. Encontrei um pedaço de torrada no chão e a leiteira virada sobre a mesa. De certa forma eu estava cansado e deitei. Dormi até às duas da tarde. Tive uns sonhos estranhos. Eu viajava num avião pequeno, com minha mãe, minha irmã e um deputado. O cara dizia que estes aviões eram fáceis de cair. Minha irmã chorava. Teve um momento que o avião passou por baixo de uma ponte e nós perdemos minha mãe. O avião aterrissou no rio e ela subiu indignada com o piloto. Seguimos voando e dali dava para enxergar toda a cidade. Era de noite. Havia muitas luzes.

No outro sonho eu corria numa rua escura e infinita. Alguns caras me seguiam de longe mas eu sabia que eles não queriam me fazer nada. Acordei cansado. Tomei um banho pra tirar a preguiça e preparei outras torradas. Liguei o rádio e me sentei perto da janela do meu sétimo andar. Ouvindo música. O centro da cidade fervia.

Comecei a comer minhas torradas quando ouvi uns gritos na janela do andar de cima. "Pára, porra! Pára! Não faz isso!" E um corpo de mulher despencou com um grito agudo. Juntou uma multidãozinha ao redor do cadáver espatifado. Logo chegou a polícia, ambulância e eu assisti a tudo. Tive que depor. Disse que antes, uns segundos antes da queda, ouvi voz de mulher berrando "Pára, porra! Pára! Não faz isso!", e que vi passar voando aquele corpo, pois eu estava sentado perto da janela, comendo umas torradas e etc. Assinei uns papéis, disse que não conhecia a vítima e que fazia muito pouco tempo que eu morava naquele prédio. Eu não fazia política de boa vizinhança. Fui dispensado no fim da tarde.

Novamente em casa comecei a beber meu conhaque com água. Liguei a TV e fiquei ali, bebendo e assistindo as notícias do dia. O dia que Cristina desapareceu de nossa casa e não foi para casa da mãe dela, nem para as amigas mais próximas. O dia que eu encontrei Ede. E como era sexta-feira, resolvi beber até domingo, afinal eu só começaria a semana na terça mesmo. Fui ao supermercado, comprei uns vinhos, um litro de vodka e umas latas de cerveja. Aproveitei e levei três garrafas de litro e meio de água mineral sem gás. Minha bebida preferida sempre foi mesmo a água pura e gelada. Quando eu bebia alcoólicos era mesmo para sentir a tontura da mente agindo no corpo e no meu todo. Bebi até pegar no sono.

IV

Sábado ao meio dia, fui acordado pelo interfone. Não podia ser Cristina, ela tinha a chave. Me arrastei até o aparelho e atendi. "Pronto".

- Cristina está aí? perguntou uma voz de mulher.

- Não. Quem quer falar com ela?

- É Denise. Eu conheci ela, quinta, num bar. Batemos um bom papo. Tu é o marido dela?

- Sou sim. Eu vou abrir a porta. - Apertei o botão do porteiro eletrônico.

- Deu!! a voz meiga respondeu.

Fui até o quarto, vesti umas bermudas, passei pelo banheiro, lavei o rosto, escovei os dentes e quando eu estava mijando a campainha soou.

Quando abri a porta entrou aquela deusa na minha casa. Com um vestido preto colado no corpo. Com óculos preto. Com bolsa preta. Sentou no sofá e me perguntou onde estava Cristina.

Eu respondi o que sabia: "Não sei. Ela sumiu na sexta-feira e ainda não apareceu".

- Nós combinamos que eu vinha aqui hoje, ela tinha umas coisas para me mostrar... disse-me.

- Tu bebes o quê? perguntei.

- Não, obrigada, eu bebi muito vinho sexta.

- Hoje é sábado. Que tal uma cervejinha geladinha?

- Tudo bem. Uma cerveja bem gelada desce.

Abri duas latas. Meu estômago começou a roncar.

- Tu já almoçou? perguntei a deusa dark.

- Não, ainda não, eu vim para almoçar com Cris.

- Legal. Então tu almoça comigo. Pode ser que a Cris apareça pela tarde. Eu vou pedir uma pizza para a produção do livro. Tu tem alguma preferência?

- Calabresa. E portuguesa!

Disquei e encomendei uma calabresa e uma portuguesa. Não demorou muito e o porteiro eletrônico tocou. "As pizzas". Abri e fui pegar a grana. " Não, não, já está paga. É por conta do editor". Agradeci e o garoto se mandou na sua moto Honda 125.

Denise soltou a bolsa e os óculos e preparou a mesa. Estraçalhamos as pizzas com a última garrafa de vinho. Me senti pesado e fomos para o sofá.

- Cris anda escrevendo uns poemas legais. Tu já leu? me perguntou a deusa dark.

- Sim, já li alguns. Ela está pensando em editar.

- Que tu acha?

- Dou força. Tem tanta porcaria editada por aí.

- Em que tu trabalha?

- Eu sou representante de uma empresa de venda de peças. Eu viajo num carro da empresa. Tenho um salário fixo e mais comissão de venda. Dá pra manter esta casa.

- Legal. Legal este apartamento. Legal a tua mulher.

Me levantei e coloquei a fita da banda Hemathomas.

Ela ainda não conhecia a banda. "Uns caras legais. Um bom som".

- Tu fuma maconha? me perguntou Denise.

- Não gosto de nenhum tipo de fumo!

Ela abriu a bolsa preta e sacou um livrinho de papel Colomy. Pegou um tubinho de plástico e tirou a erva verde de canábis. Enrolou um cigarro. Acendeu. Deu umas baforadas e me passou. Recusei. Prefiro a bebida, disse à linda amiga de minha mulher. E assim continuamos até ela terminar de fumar. Ficou com os olhos vermelhos e a expressão lenta. Parecia não estar mais ali na sala, falava devagar e com o olhar no infinito. O cheiro forte ficou impregnado no ambiente. Abri as janelas e acendi um incenso. Mesmo assim gostei de estar ali com aquela deusa dark ao meu lado e bebendo uma cerveja geladinha. Eu falei para ela da queda da mulher do oitavo andar. Falamos de Cris. Comentamos autores que tínhamos lido. Falamos da música pop. Falamos de tudo que pintava na cabeça. Aí esgotou o assunto. Ficamos um tempo calados, bebendo a cerveja. Aí a deusa dark fechou mais uma bomba. Ligou, deu uns pegas e me passou. Recusei novamente. Rimos.

- Onde será que ela se meteu? perguntou Denise.

- Ah? Quem?

- Cristina.

- Não sei. Telefonei pra mãe, pras amigas...

Ficamos calados. Ouvindo o som.

Eu não era um cara curioso mas perguntei de onde Denise era. "Do Brasil", ela respondeu. E continuou: "Às vezes estou em Porto Alegre, às vezes em São Paulo, às vezes no Rio, às vezes em Recife... assim vou vivendo, mas eu nasci mesmo foi em Santa Catarina, numa cidadezinha cu. Eu trabalho com teatro por um tempo e depois tiro umas férias, viajando pra não acumular dinheiro".

- Interessante, eu respondi. - Eu já sou bem mais apegado ao meu cotidiano. Odeio viajar de avião. Por isso não vou longe. O mundo, eu acho, é a mesma merda aqui como em Nova Iorque, Paris ou Tóquio. O que pode ser diferente são os aspectos econômicos e as oportunidades culturais, por exemplo, além da paisagem natural e da arquitetura. Mas no fundo rola a mesma merda, miséria, vícios humanos, violência, corrupção... só muda o cenário.Depois não consigo acumular dinheiro para viajar. Pago as contas e bebo o pequeno saldo.

- Interessante, ela respondeu.

- O fato de estarmos vivo, por si só, já é interessante, filosofei. Rimos. Troquei a música. Peguei mais cervejas e continuamos nossa conversa.

V

Chegou a noite. A velha noite. Cristina não tinha aparecido. Denise falou que ia viajar domingo de manhã. Bem cedo. E que tinha combinado com Cris que ficaria em nossa casa até o horário do avião. Irá pra São Paulo. A velha Sampa. Tudo bem. Eu estava com fome. Deni também. Corri até a cozinha e preparei umas torradas. Comemos torradas com cerveja. Ótimo. Bela mulher me parecia Denise. Um corpo que se evidenciava naquele vestido preto colado. Belas pernas. Um lindo cabelo bem cortado. A boca tinha cor estranha e ela mostrava os dentes quando falava. O olho dela era transparente. Aquele visual me encantou e me excitou.

- Eu quero te comer, Deni.

- Eu te acho meio vulgar. Porém bonito, disse.

- Tudo bem.

Abri outra cerveja.

Terminou a música. Levantei e coloquei outro CD. O som do Camisa de Vênus invadiu, em volume baixo, a minha casa.

- Eu gosto de escutar esses caras, comentou.

Ela abriu outra cerveja. Voltei a atacar:

- Eu prefiro escutar teus gemidos de prazer.

- Eu prefiro beber até dormir.

- Vodka. Só tem mais uma lata de cerveja.

- Acabou a cerveja?! Só tem Vodka?

- Vodka. Da brasileira!

Eu preferia derramar vodka no corpo dela e começar a beber. Lambendo com minha língua. Eu pegaria o litro e derramaria nos seios e chuparia um a um. Demoradamente. Colocaria minha cabeça no meio das pernas dela e encheria sua caverna sexual com vodka para depois beber. E enfiaria minha língua, à procura de mais vodka. Deliciadamente...

- Vou tomar um banho, disse Deni. Pegou o seu corpo lindo e carregou para o banheiro.

Tirei o CD da banda Camisa de Vênus.

No meu relógio marcavam 8 horas da noite. Liguei a TV e escutei o noticiário até Deni voltar. O cabelo estava molhado. Comprido. Preto. Senti no olhar dela um aviso de interesse sexual inconfundível. A amizade com Cris era recente e Deni não cultivava preconceitos. Era uma liberal extremista. Gostava de viver intensamente os sentimentos humanos, e que lhe desse prazer momentâneo. Isto é viver mesmo, explicava, depois morremos e tudo se apaga, se esclarecia, filosofando.

- Já que tens só uma cerveja, eu proponho irmos a um bar - disse Deni de cabelo molhado.

Vesti uma roupa melhor e descemos. Caminhamos até encontrarmos um bar agradável na Rua da República. A garçonete, loirinha magra, de olhos azuis e voz aguda, no serviu a primeira cerveja. No canto do bar um músico executava solos em um violão, em volume baixo que dava para a clientela conversar.

- Gostei de você, Max. És bem como a Cris me contou. Valeu a pena te conhecer! comentou Deni, acendendo mais um cigarro. Este de maço. Bebi um gole da cerveja e voltei a atacar:

- Eu também gostei muito de ti, Deni. Louca, bonita, libertária, inteligente, culta, gosta de viver sem traumas, pelo que me contou das tuas aventuras... Mas falta ainda a nossa aventura... o nosso encontro de peles e línguas... da nossa troca de energia sexual... acho que devemos nos aventurar... sem compromissos, sem medos... sem preconceitos...

- E Cris? Como fica a relação?

- Fica como está. Continuaremos casados. Eu tenho o dom de amar várias mulheres ao mesmo tempo. Te amo desde que te vi, teu olhar, teu jeito de andar, de falar, de olhar... Um encanto que surgiu na minha vida neste fim de semana.

- Uma aventura?!

- Sim. Bebemos mais umas cervejas nos olhando no fundo dos olhos um do outro. Pensando no que estava para acontecer. Se valia a pena se envolver. E se acontecesse uma paixão? Como seria para administrar os outros encontros? Agarrei a mão dela, acariciei seus dedos finos e seu pulso de pele macia.

Pagamos a conta e partimos para meu apartamento. No caminho nos abraçamos e paramos para jogar num fliperama. Uma brincadeira gostosa em que os aviões de guerra depejavam mísseis nos inimigos que queriam destruir o planeta. Éramos os salvadores da Terra. Rimos e nos beijamos.

Subimos de abraços e beijos no elevador. Fomos até o 12º andar, voltamos vária vezes. Minhas mãos abraçavam a cintura fina de Deni, passavam por suas pernas, sua bunda, seus seios e ela chupava meus lábios com beijos ardentes de excitação. Suas mãos finas abraçavam minhas costas e ela esfregava seu belo corpo no meu. Eu imaginava tirar a roupa da nova amiga de minha mulher e beijar todo seu corpo, desde os pés pequenos de unhas bem cortadas e pintadas, passando pelas pernas torneadas e coxas firmes e bronzeadas, indo com meus lábios pelo ventre magro e esguio, subindo até os seios firmes e pequenos, cruzando pelo pescoço longo, pela orelha pequenina, até beijar sua boca pequena e a face morena, mastigar seus cabelos sedosos... enfim invadir seu corpo e fazer vibrar sua alma, entrelaçado de paixão sem controle até um gran finale. Minha mente fértil já projetava a cena que iria acontecer no sofá da sala ou na cama enquanto nos beijávamos no elevador.Eu tinha uma garrafa de champanhe guardada e esta era a ocasião especial para abrir a espumante produzida na serra gaúcha que ganhei de um cliente.

A porta do 7º andar se abriu e abraçados caminhamos pelo corredor. Peguei a chave e abri a porta do apartamento 707. Entrei silenciosamente. Deni calada. A luz da cozinha estava acesa. Ouvimos barulho de pratos e talheres.

Cris fechou a porta da geladeira e veio ao nosso encontro, sorridente, meio bêbada, e feliz. Abraçou Deni e beijou o rosto da amiga.

- Que bom que você veio, Deni. Eu não acreditei que você viesse e fui passar o dia com meu irmão no sítio dele. Tenho novos poemas para te mostrar. O meu anjo marido Max te recebeu bem?? Que horas você chegou, querida? Vamos pra cozinha que estou preparando umas torradas... Você quer, Max?

Eu disse que estava cansado e que ia dormir. Mijei, bebi a última cerveja e liguei a TV no quarto. Quando acordei, às 11 horas de domingo, Deni tinha viajado para São Paulo.

Partiu para outras aventuras.

Na cozinha, ficaram pedaços de torradas que não foram comidas.

Um desperdício!

VLADIMIR CUNHA SANTOS, Conto publicado no livro OUTRAS VIDA, 2010.

VLADIMIR CUNHA DOS SANTOS
Enviado por VLADIMIR CUNHA DOS SANTOS em 02/11/2017
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