quase

Nunca foi bonita, o corpo magro como uma espinhaço, os olhos vesgos e a vontade louca de namorar, mas quem queria? ninguém, sozinha, lia romance onde a mocinha tinha um namorado e estudava pra ser atriz, outro que ela gostou muito foi da menina que se apaixonou pelo médico de óculos, pensava que poderia ser uma dessas dos livros que estuda ingles, viaja pra longe e tem amigos em vários continentes. É a melhor da sala, só tira de 9 pra cima, e mora na única casa da praça que tem um jardim na frente. Acha em silencio, porque essa coisas não se conta pra ninguém, que a mairia das meninas são estupidas e não entendem nada dos homens, como pode elas viverem assim, sem uma leitura, sem um pouco de novela na cabeça, a vida é tão pobre na sua mesmisse. Nunca namoraria um rapaz dessa cidade, "tropa de iletrados", não faria isso, pensa logo logo ir pra cidade grande, talvez são paulo, Rio, Porto alegre se não fosse tão frio, sentar num desses bares que tem mesa na calçada, igual um que viu na revista manchete, mulheres distintas tomando uma bebida e lendo o jornal. Não tem amigas porque não quer, pensa num alto consolo que lhe mantem de pé, olha a mae que nunca saiu da cidade, o pai, que apesar de ser um bom carpinteiro só calça esses chinelos de couro que o dedão fica pra fora, morre de vergonha, a noite, a novela, não gosta muito, mas fazer o quê, se não assistir não sobra nada para as conversas. O pavio as vezes fica curto, explode com mãe, coitada, que firme imagina que dor da moça, na rua não fala nada, uma vez chingou uma menina na escola e essa disse que não ouvia coisas que vinha de alguém disforme, ficou duas semanas chorando, sequer alguém pra contar o que aconteceu, contar como essa menina é equivocada, gosto é gosto, não se discute, mas deveria guardar pra ela essa fala insensata. De vez em quando ainda dói, faz parte da vida a dor, imagina se apaziguando, volta a vida, deixa o romance, senta no banco do corredor da escola, daqui seis meses a escola acaba, tem pavor de pensar se não for pra São Paulo, sentar naquelas mesas que viu na revista com gente fina e descolada como ela,