Era final de outono.
 
Sozinha, pela estrada próxima à sua casa , Cacilda passeava.
 
Aproveitava a folga, sem crianças a chamando por perto,  sem a sogra que lhe infernizava de tantas exigências fazia...O sogro, coitado, era boa pessoa.Sempre quietinho,na dele e acreditava ser pelo fato de não mais suportar aquela víbora ao seu lado.
 
Arre, não mais suportava tudo aquilo!
 
Desde a morte do marido aquela velha senhora a lhe "sarnear" as ideias...
 
Por vezes, ela consciente ou inconscientemente, desejava que tivesse sido a sogra ao invés do marido a ir embora dessa terra.  
 
Deste, lembrava bem...Sentia saudades ,apesar de tudo...
Não que fosse grande coisa, era exigente, chato em tantas coisas e manias, como a mãe.  Mas ela o amava mesmo assim e o amor dos dois ,mesmo desgastado, valia a pena.
 
A sogra?  Sempre a "pentelhar"...
Metia-se nos assuntos dos filhos,  trigêmeos e pré adolescentes e só problemas maiores ainda criava.
 
Os filhos?  Além da falta que um pai fazia, não aceitavam facilmente as coisas ditas ou pedidas. Faltava-lhes um pulso.
 
Assim ia Cacilda, caminhando, pensando...
 
Olhava os lindos caminhos, via as folhas caídas naquele final  de outono , mostrando que logo a nova estação por lá estaria chegando, antes até do tempo previsto. 
 
Teriam frio, chuvas e ela, só de pensar que esse cenário faria com que mais tempo em casa tivessem que ficar, tantas vezes com a neve que até a porta da casa bloqueava, sentia calafrios.  Sentia-se sem forças pra tudo isso enfrentar ,mais um ano...
 
Até quando? Perguntava-se ..
 
Seguia o caminho. Seguia, olhava, pensava, se atormentava...
 
De repente, numa curva, vê a cerca que apesar de  contínua, apresentava uma abertura, uma passagem...
 
Sem saber como, um misto de esperança e força, dela se apoderou.
 
Viu naquela passagem que se abria, uma resposta  para tudo que a afligia.  Teria que retomar sua vida ,para isso, escolher um novo caminho, uma nova passagem.
 
Assim fez...
 
Chegou em casa decidida e ao ver a sogra carrancuda, abrindo a boca para reclamar e contar  fofocas dos filhos, chamou a todos que, atenderam, milagrosamente de pronto.
 
_ Estamos nos mudando!Afirma,decidida!
_Como?
_Quando?
_ O que houve?
_Como assim? 
_Estás louca?
_ Para onde vais? 
 
Estas foram algumas das perguntas que aconteciam como chuva de indagações ali, em menos de minuto. Todos falavam ao mesmo tempo...
 
Como resposta , Cacilda diz apenas:
 
Vou em busca de VIDA, de me sentir novamente viva e tenho certeza, vamos nos dar bem!
 
Trabalho nunca me faltou e as crianças, por um tempo, estudarão em colégios públicos e depois, farei valer meu diploma de odontologia, que abandonei por exigência do pai de vocês.
 
Ele agora, de onde estiver verá  que tomarei pulso da situação, assumirei vocês e vamos fazer a nossa vida, de verdade novamente!
 
_ Isso significa que acolhemos a ti e a essas três pestes e agora nos abandonas?-Esbraveja a sogra.
 
_ Nem pense nisso dessa forma.Estaremos sempre presentes e será um prazer saber notícias, visitá-los de vez em quando - responde Cacilda.
 
Após muitos blá,blá, blás, a conformidade parecia ter se instalado, as crianças se mostravam alegres com a novidade e perspectivas de mudanças.
Nessa hora veio a "facada" final da sogra, que dispara:
 
_ Pois te digo: Não terás nada, nenhum centavo da nossa fortuna, nada de ajuda, nada de contribuições...
 
Cacilda, chama os filhos, sobem, fazem planos.  
 
Aos poucos arrumam suas malas e passam pelo avô e sogro,abraçando-o, beijando-o e agradecendo pela acolhida durante aqueles anos.
 
Ele,silenciosamente os abraça e diz ao ouvido da nora:
 
_Tenho o número da tua conta. Podes ter certeza que vou te ajudar. Segue em frente!  Nem sei como suportaram essa vida por aqui!
 
Eu, nada mais posso fazer! Mas desejo tudo de bom ,sigam o melhor caminho...Ficarei torcendo., rezando.
 
Ainda bastante alvoroçados, mãe e filhos saem da casa...
 
Na rua, Cacilda olha para as folhas amareladas e diz aos filhos:
 
_Juntos reiniciaremos uma nova vida. Conto com a ajuda de cada um!
 
  Somos uma família e agora, olhem todos ,como eu para essas folhas caídas:
 
_Tenho uma certeza muito grande dentro de mim que na próxima vez que por aqui passarmos, no lugar delas, flores estarão enfeitando nossos caminhos.  
 
Deram-se um abraço e em silêncio, um risinho com o olhar, denunciava a força de um recomeço...
 
Cacilda sabia que teria muito a enfrentar, mas estava forte e assim prosseguiria!
 
Após um período de adaptação, Cacilda e filhos estão bem...Estão mais juntos, mais amigos...
 
Infelizmente, o sogro faleceu e,  como forma de agradecimento ao sogro que os ajudou, recebem em sua casa agora  a sogra... Mas agora, seria diferente, tinham certeza... 
 
Pelo menos, era o que todos esperavam!!! E a vida haveria de dar a resposta...
 
 
 
 
 
Rejane Chica
Enviado por Rejane Chica em 07/11/2017
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