Um beijo para fingir uma igualdade

Levantei-me. Cinco da manhã é o horario que já não me agrada, e ainda por cima, já não aguento mais a minha vida. Saio, passo numa padaria - se é que poderia ser chamada de padaria - e tomo um copo de leite, como um pão e contemplo minha falta de paciência. Acho que os outros não notam esse meu estado, e também não sei se sou eu quem realmente escondo ou eles que se detem em notá-lo. Nada me agrada. Talvez a padaria seja boa, e eu que estaja mal. Deveras mal.

Processos estocásticos. Turbulência. Hoje mesmo, igualmente aos ultimos dias dos ultimos meses, pensei em deixar tudo, desistir. Dessa vez, ao menos joguei o livro fora, quando passava por aquela rua, que não estva mais suja, foda o livro.

Eram sete e trinta e seis - o relogio de um bar - e eu ainda andava, e ainda pensava. Por que eu deveria me preocupar com alguém, aguém mais que eu, ou menos? Por que eu ficava pensado em como pensar para me entender, ou simplesmente tentar me entender? Depois de apenas algumas tentativas frustadas deveria ter aprendido e deixado de perder o meu tempo com uma coisa dessas. E ai estam outras duas coisas para perder tempo pensando. Aprende-se que não se pode entender a si mesmo? E se pode escolher o que é melhor para perder tempo? É mesmo possivel perder tempo?

Não creio que a leitura dos meus infrutiferos, idiotas, persistentes, ovo-galinha, lamentaveis e bolinho de tortura preste para alguma coisa.

A verdade é que vagueio. E sempre estou perdido, pensando, sempre sou o estranho ao outros porque eu sou "interno". Dou importancia em entender o que se passa dentro de minha existencia e como ela se relaciona com outras existencias, existencias que fazem o mesmo, as vezes. Ao inves de ser "como os outros" e pertencer a certo circulo, fico restringido a um espaço permitido pelos que de alguma forma e por algum motivo se mantem relacionados a mim.

E as vezes vejo por ai algumas fotos que me intrigam, algumas palavras que parecem um espelho. E uma situação que de forma alguma, nunca, consegui compreender um cisco ao menos.

Deixando de falar para voltar a contar. Entrei ao shooping depois de ter desistido de ir ao trabalho. Caminhei como não se caminha diariamente. Passei pela porta de uma loja, observando atentamente os preços das roupas e, desviando o olhar, vi um outro olhar, ainda mais instigante. Dentro da loja escutei sua voz. Atendente. Seja lá qual for o nome. Simpática e preocupada. Não compreenderia rapidamente os seu problemas. Demorei-me lá, claramente por causa dela. Gastei com a compra da roupa, qua não interessa, e com um encontro, o qual não me deu despesas. A essa altura já não me importava mais com o que sobrava do meu dinheiro.

Oito horas na noite. Ela chaga, ainda simpática, a preocupação dissipada, e um sorriso não alegre, forçoso. Tinha a idéia de que as coisas para ela talvez não fossem muito diferente do que para mim. Conversamos por quase tres horas. Surpreendi-me. O assunto? Indignações. Não tive medo pela "suposta" coincidência. De fato, isso apenas tornou mais facil os meus ultimos momentos de prazer carnal. A totalidade do meu dinheiro, ainda somada com uma quantia em real de sua generosidade sexual foi gasta com o quarto do motel. Não tenho que dizer como foi. Isso são coisas que encadeiam muito mais aspectos e percebe-se que minha mente não dá conta de trata-los.

Deixei uma carta para ela na loja, ainda de manhã, com as minhas mais sinceras palavras de conselho - se se pode dar conselhos - e os meus mais serenos motivos de desistencia. Fracamente recusei a vida que ainda tinha e não aguentaria mais continuar com minha mente instigante, a pensar e pensar e como resultado, nada.

Talvez a loucura me fizesse feliz. Porem posso ter deixado uma lágrima de tristeza tão profunda que isso seja a minha - unica - e maior felicidade que possa ter acontecido.

Um abraço e um sincero desejo de que as coisas se completem da maneira que mais lhe agrade. Um beijo para fingir uma igualdade.

Aljebr
Enviado por Aljebr em 21/08/2007
Código do texto: T617069