Árvore da vida

Abri os olhos e vi a Jurema, não mais como árvore e sim como uma mãe. Com os seios de fora a mim ofereceu alimento. Eu levitava e me sentia ainda dentro de seu ventre. Sentia-me plena e o sabor açucarado na minha boca era a vida dada a mim como um doce.

Venho de longe, sou filha da luta. Naveguei mares bravos, morri de fome ou de açoite, já não me lembro ao certo. Minh’alma acordou e minha única lembrança era Jurema. Ela é o inicio, a raiz forte que nunca morre e mostra a verdade da vida.

Estava em novo continente, perdi minha identidade. Tentei por vezes recordar. Seria eu Yorubá? Agora me chamam Santos. Dizem o tempo todo que devo agradecer a Jesus, pois sou livre. Sou tão livre que nem sei pra onde ir. Durmo embaixo da Jurema, minha mãe, minha casa e alimento.

Andei o dia todo sob sol escaldante, a procura de algo que fizesse algum sentido. Ao fim do dia já sem forças, com muita sede, peguei no sono ao pé de minha mãe. Sonhei com um vale onde viviam uns seres, os identifiquei como Deuses. Usavam vestes bem coloridas. Engraçado, não é nada parecido com o que vejo aos domingos na igreja. Eles dançavam, alguns empunhavam armas e um deles sentado em uma pedra me chamou. Disse que devia lutar por meu povo, pois a justiça seria feita. Acordei de supetão e jamais esqueci aquele sonho que me pareceu tão real. Comentei sobre o sonho com o padre em uma de minhas confissões e ele pediu que jamais falasse sobre isso com ninguém, pois era o diabo me atentando. Rezei dez Pai Nossos e cinco Ave Marias, mas pra ser sincera nunca esqueci o recado do homem da pedra que clamava por justiça.

DANIELE PIRES
Enviado por DANIELE PIRES em 14/11/2017
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