Adegesto Pataca

Quando nasceu até parecia prever a seca do corpo, do pensamento, da alma e da água, com o semblante sério não chorava e então,

- onomatopéia - plaft, plaft, recebeu duas palmadas ardentes e o choro lhe surgiu com lágrimas poucas, era Adegesto Pataca, filho de Rui Feijão e Finólia Piaubulina, décimo filho, o caçula da miséria e da fome, que desde as sesmarias estava presente e nunca desistira de castigar tal povo sofrente. Na hora de se alimentar ao seio de sua mãe agarrou-se com tal desespero como se fosse essa sua última chance de conseguir algo para se suprir o incômodo que habitava em seu estômago, todavia sua tentativa foi-se em vão, o leite de Finólia Piaubulina havia secado, assim como as veredas de sua terra, Adegesto ficou com fome naquele momento como se o destino já o estive-se preparando para o que viria pela frente.

Rui Feijão, seu pai, como uma briga sangrenta entre animais selvagens, lutava contra cactos, galhos retorcidos, angicas e juazeiros para que com muita sorte pudesse conseguir algo em meio a caatinga que servisse de alimento para extensa família, luta essa que quase que por via de regra saía derrotado, más dia após dia esse era seu ritual, sua prece de necessidade, a oração da fome e do desespero, sua herança das capitanias, da cana-de-açúcar, do coronelismo cego exercido pelas pessoas de posse, a posse da desigualdade e do desrespeito, Rui Feijão convivia com toda essa situação, más não era sua exclusividade, compartilhava esses fatos com todos aqueles que ele conhecia nos sertões de suas vistas.

Finólia Piaubulina, sua mãe, de coxas magras, boca quase sem dentes, cabelos ressecados pelo sol escaldante dos dias áridos, e como havia de ser, castigada pelo nascimento de seus dez filhos, sem contar dois que morrera dias após o vir ao mundo, não se conformava com a situação de fome e miséria vivida por sua família, más tão pouco podia para desfazer tal embaraço, rezava toda a vez que sentira fome, que a aquela altura fazia-se várias vezes ao dia, na semana, no mês, e com o passar do tempo mostrando-se cada vez mais devagar, como que se o sofrimento aumentasse ano após ano, e sem nenhuma perspectiva de melhora, sua vida parecia condenada a passar carregando o peso da miséria de um povo em suas mal tratadas costas, isso já não lhe dava mais muita vontade de viver.

Continua...

Carmem Treze
Enviado por Carmem Treze em 03/01/2018
Reeditado em 27/06/2018
Código do texto: T6215768
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