O Confessor

A indecisão naquele momento atordoava-lhe a mente,

mas inesperadamente veio o meio de continuar na sua divina missão!...

Padre Rosefer estava sentado no banco de sua capela, absorto seus pensamentos vagueavam num vai e vem sem fim, o jovem padre com pouco mais de trinta anos, sentia com poucas perspectivas sobre os seus deveres, apesar de ser inteligente, culto e muito cuidadoso no seu dever cristão. Aquela paróquia lhe foi confiada pelos seus superiores, --- será que darei conta do recado? Mentalmente repetia esta interessante linguagem popular. Se as pessoas não conseguirem entende-lo neste seu pastorado, teria ele moderação e até mesmo mudaria as metas traçadas ou abandonaria tudo o que lhe foi proposto nos longos períodos de estudos no seminário, pregar, orientar ajudando o ser humano, seria tão fácil largar estes propósitos, tiraria assim o fardo de suas costas, a meta seria apenas cuidar dele mesmo.

Mas, e aquele idealismo que o inflama desde os tempos de criança, ser Padre!...

E aquela vocação firme e contagiante constatada pelos seus mestres religiosos?

Não, de maneira nenhuma estava nele a vontade de abandonar sua missão, aquela indecisão era apenas temporária, o seu espírito não compactuava com as facilidades e os prazeres deste mundo tão controverso. Sentia cada vez mais uma vontade indomável de fazer bem aquilo que resolveu seguir, não era apenas um capricho de jovem sonhador, mas sim, um desejo incontestável, seguir o seu grande mestre Jesus Cristo, cada vez que pensava neste motivo, sentia-se tão entusiasmado, tendo a certeza de que para ele se sentir bem, não poderia jamais ser de outra forma.

Mas o impasse interior continuava, naquele banco ele estava só, parecia que algumas imagens de santos naquela igreja diziam-lhe:

-- Não olhe para nós, não temos nada com isso!... O problema é seu!...

Logo refazendo a confusão interior, faz o brado silencioso:

-- Senhor, ajude-me no meu sacerdócio, pois sei que muitas almas precisam de ti!

De repente teve um sobressalto, começando pelo mal cheiro, depois ouviu a voz grave de um maltrapilho, um mendigo sujo de longas barbas, dava para notar que o indivíduo não tomava banho havia muito tempo:

--- Padre, o que vou lhe dizer se quiser encarar como uma confissão, tudo bem, do contrário pra mim tanto faz, já passei por todos os infortúnios deste mundo agora o melhor que pode me acontecer é a morte, saindo daqui é ela que procurarei.

Desde minha infância a má sorte me acompanha, até minha mãe não tolerava o meu jeito temperamental, depois que fiquei adulto, desprezei e a abandonei, isto já faz alguns anos.

Um dia até me apaixonei, desta vez pra mim parecia que o céu estava na terra, sentia a felicidade querer aproximar de mim, o namoro, depois o noivado, mas uma pequena traição minha, a noiva me abandonou, seus pais nunca gostaram de mim, então facilitaram mais a separação. O casamento tão sonhado por mim foi realizado, mas com outro.

O ódio tomou conta do meu ser, agora não era mais o céu na terra, e sim o próprio inferno, saindo dele a minha inspiração de desejar tudo quanto fosse espécie de infortúnio para a união e para toda aquela família. Meu desejo era tanto que realizasse uma terrível desgraça, infinidades de vezes maior do que a minha, chegando até a implorar para o príncipe das trevas para realizar tal intento.

Padre Rosefer comenta: --- vejo que atraíste grandes maldades para ti, conseguiste sujar tanto sua alma sendo muito maior do que sua sujeira exterior, procuras a morte por desespero por causa dos seus pecados, eu te digo que Jesus já sacrificou por todos nós.

--- Então Padre, e a minha penitência?

--- Sim, existe uma penitência plausível, vá procure sua mãe, peça-lhe perdão e agradeça a Deus se ela ainda estiver viva. Tente procurar todos que desejastes desesperadamente o sofrimento e faça o mesmo, poderia pedir para fazer penitência com muitas orações, entretanto seria benéfico para você se abandonasses este teu orgulho e humildemente elevasse apenas esta oração aos céus:

Oh, Jesus, arrependo-me sinceramente de todo o mal que pratiquei, imploro-te lava minha alma destas impurezas para eu doravante eu seja um novo homem, e este ódio que sempre me acompanhou se transforme em amor e um desejo maior não de prejudicar meu próximo, mas sim, ajudar sempre.

--- Obrigado, Padre, enquanto falavas esta oração espontânea eu a repetia em silêncio, acho que nunca a esquecerei. Doravante não procurarei mais a morte e sim a vida, adeus!...

Enquanto o homem encaminhava-se para a saída da igreja, Padre Rosefer levanta também para seguir seu caminho e diz: --- obrigado, Senhor, por ter me iluminado também!...

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(História fictícia, mas tomara que exista muitos padres Rosefer e muitas pessoas odiosas arrependidas)