O (Des) florescer

Em uma cidade repleta do que todas as cidades possuem, nasceu uma linda criança, com toda a doçura e pureza que um ser humano desprovido de vivência pode ter. A medida em que a criança crescia, mais avida pelo mundo ela ficava, tudo queria tocar, conhecer, descobrir. Cada brincadeira uma aventura, em cada descoberta um tesouro. Esta criança estava sempre cheia de alegria, seus pais viviam encantados por ela, e outras pessoas se perguntavam como uma criança poderia ser tão feliz assim.

Depois de alguns anos, esta criança começou a questionar, tudo que um dia quis apenas conhecer e tocar. Não entendia porque nem todos do mundo tinham as mesmas coisas, se todos afinal de contas, eram iguais. Formulava dezenas de teorias para salvar o planeta, lia livros de todos os tipos, afim de encontrar todas as respostas que lhe tiravam o sono, respostas que pudessem corroborar com suas teorias. Escrevia histórias, não de um mundo perfeito, mas ao menos justo e feliz. Construía sonhos magníficos, sonhos tão grandes, para um mundo que parecia pequenino demais. Queria com todas as suas forças realiza-los um dia, quando tivesse o poder para tal.

Os anos se passaram, e tudo que antes fora urgente, ficou para traz, dando lugar a problemas rotineiros, preocupações e transtornos de ansiedade. A criança sonhadora, o adolescente questionador, deram lugar a um adulto conformado e cansado.

Mas, em suas noites solitárias, ele agarrava seus rabiscos de outrora, e os lia, com a janela aberta e a luz das estrelas, junto com a luz fosca de seu quarto, brilhavam em conjunto sob as páginas já envelhecidas. Dando lhe a sensação de que um dia já foi tudo, de que já foi tanto, e pego por seu velho espírito questionador, se pergunta, porque já não o é mais?