História da violência

“não quero sofrer, mas não abdico da possibilidade de fazer o outro sofrer, por medo do que já sofri"

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Houve um tempo, no passado distante, em que a força física era sinônimo de poder para conquistar, para dominar.

Bastaria demonstrar violência para submeter o outro às suas genuínas vontades.

Quando finalmente se entregassem ao medo das terríveis atrocidades,

a descompensação de poder estaria criada, ao seu favor.

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Foi com a tecnologia que pudemos mudar essa descompensação. Com ela, Destituiu-se a violência dos brutamontes guerreiros e deixou-a acessível também aos mais fracos. Esses que saíram de ser oprimidos, ganhando por suas habilidades uma fatia do poder de também conquistar e dominar através de objetos que nomeamos ‘armas’.

Os habilidosos com as armas gostaram do poder e mantiveram a antiga regra: Bastava criar violência para submeter o outro às suas genuínas vontades, quando finalmente se entregassem ao medo das terríveis atrocidades, a descompensação de poder estaria recriada, agora ao seu favor.

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Com o passar do tempo a violência do mais forte já estava destituída e muitas pessoas estavam capacitadas com variedades de armas que ameaçavam dominar a vontade do outro. O poder estava perdendo sua capacidade de imposição. Então, para garantir a dominação, ficou importante juntar forças. Quanto mais pessoas inflamadas com sua vontade, maior seria a chance de prevalecê-la, pois mesmo que abatessem alguns do seu grupo, a vontade compartilhada continuaria existindo.

E foi buscando proteger suas vontades que os grupos se formaram e assim passaram a existir grupos com arsenais de armas para submeter outros grupos às suas vontades.

E assim mantiveram a antiga regra: Bastava criar violência para submeter o outro às suas genuínas vontades, quando finalmente se entregassem ao medo das terríveis atrocidades, a descompensação de poder estaria recriada, agora ao favor de seu grupo.

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As alianças de vontade de um grupo permaneciam ininterruptamente ameaçando as alianças de vontades de outros grupos era a unica forma de prevalecer sobre o outro. Se não bastasse de problemas entre os grupos de fora, ainda havia discórdias e incertezas internas a esses grupos. Alguns queriam impor-se sobre seus próprios semelhantes.

Foi para evitar a destruição, pelos muitos desacordos internos, que tivemos que inventar as leis. Caso contrário, voltaríamos aos habilidosos ou aos brutamontes em cada novo grupo.

A Palavra da Lei, utilizada nessa prática, foi bem vista por não eliminar pessoas do mesmo grupo ideológico. Aceitava vontades semelhantes, promovendo acordos sobre desintedimentos e, nos desintedimentos, era prático encarceirar as pessoas.

Mas como encarceirar as pessoas? Claro que para isso, foi necessário dar poder a pequenos círculos de pessoas que julgavam mais capazes de julgar quem ameaçasse as vontades da maioria do grupo, convidando-os a serem trancafiadas por longos períodos (até que sua vontade ameaçadora pudesse com o tempo ser sumariamente frustrada). Aos julgadores denominamos "Juízes".

Apenas convidar as pessoas a irem para o cárcere não funcionaria, afinal ninguém gostaria de abdicar da própria vontade. Foi por isso que com os "juízes", para garantir que fossem cumpridas as leis, o grupo também optou por re-inserir nos grupos alguns dos antigos geradores de violência: alguns dos brutamontes e dos hábeis em armas para reprimir pequenas ameaças à ordem da vontade do grupo, agora bem vistos como restauradores da ordem. Os chamamos "Policiais".

E para lidar com as ameaças ideológicas constantes dos grupos externos? Para estas foi necessário criarmos um outro pequeno grupo de pessoas, parecido com os policiais mas com um potencial de violência bem mais afiado, pois tratava-se de seres humanos que ameaçavam o grupo todo. Haveria de ser um grupo de violência suficiente para ameaçar e garantir o medo sobre os outros grupos que discordem do nosso. Um grupo especialista em conquistar e dominar enormes grupos de pessoas através de ações coordenadas, força bruta e armas. Os chamamos de "exercito".

E assim mantiveram a antiga regra: Bastava criar violência para submeter o outro às suas genuínas vontades, quando finalmente se entregassem ao medo das terríveis atrocidades, a descompensação de poder estaria recriada, agora ao favor de sua Cultura.

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Pois os grupos cresceram muito com suas leis, hábitos e costumes. Alianças se formaram ainda para enfrentar outros grupos grandes. As ameaças contínuamente reinventadas para criar medo já estavam em níveis execráveis: tratavam-se de ameaças de destruição de recursos, ameaças de destruição de territórios continentais, ameaça de mortes de toneladas de corpos. Guerras por meses e destruições, tudo pra ensinar o medo.

Agora as alianças já estavam com dificuldade de manter o direcionamento das vontades inflamadas, com tanto medo, mas ainda eram importantes terem um número de pessoas capacitadas em exercer violência de qualidade para demostrarem cada vez mais ameaçadores e assim evitar que as terríveis ameaças dos outros grupos se concretizem também.

As leis que serviam para proteger estavam trazendo direitos descompensados, para juízes, policiais, membros do exército, politicos, dentro das alianças.

O motivo da descompensação é o mesmo: os fins justificavam os meios. Esses pequenos poderes foram se aflorando para cidadãos que mostravam potencial em agregar mais e mais poder: haviam muitos agora: Poder verbal, Poder mental, Poder emocional, Poder relacional, sex appeal, entre outros.

As pequenas relações de violência aconteciam a todo momento. Era quase impossível passar um dia sem que fosse infligida ao menos uma pequena violência sobre alguém.

E ainda quando foi percebido que as novas formas de poder trouxeram algum progresso intelectual pra agregar mais poder à nação por ajudarem o exercito, a polícia e a nação a manter o poder ( conhecimentos como a engenharia, medicina e direito) essas práticas foram super incentivadas, dando muito mais conforto a quem as exercia, o privilégio. E consequentemente aquelas que trouxessem menos poder ou nenhum, não só não foram incentivadas como poderiam ser até vetadas por esses poderosos, afinal diriam:" é primário garantir nossa genuína vontade sobre as ameaças das outras nações e suas alianças, pois estão também se fortalecendo...!”.

A essa altura, ja percebe na violência um grande refinamento e muitas novas formas de ação para criar medo.

Sua estrutura já estava em qualquer pessoa, em qualquer momento. A cultura já tinha uma cultura de violência. Já existia nas palavras, nas idéias, nos filmes, na política, na diplomacia, no sexo, no amor, no desejo.

Ela ganhou tanto espaço que é hoje permitida por Lei. A violência da força física, de armas, de palavras, de ações desde que não ameaçassem a assinatura da vontade genuína da nação.

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E hoje em dia que a violência existe de um jeito tão atroz e refinado, que as ameaças entre nações já não surtem o mesmo efeito. Só dominar o outro ou conquistar um lugar não é mais o suficiente. A forma de dominar e conquistar era também meticulosa.

Os meios de comunicação disseminam hoj a violência em uma frequência constante com alta densidade que é difícil quem não tenha medo do outro, desconhecido.

A confiança no outro mostra-se cada vez mais rara. Quem a traz consigo é tratado como pessoa ingênua, uma vez que o medo é ensinado antes mesmo da coragem. Desconhece-se hoje alguém que consiga agir sem a violência ou quem tenha desconhecimento eu utilizá-la para seu benefício.

Ela atingiu tamanha proporção que a própria coragem as vezes se vê impotente quando a depara frente à frente, perdendo a esperança.

Ela está aqui agora e nos fere, diariamente, em lugares que já não mais conseguimos atentar. Nos atacam na psiquê causando depressão, pânico, estresse.

Raro quem consiga passar um dia sem conhecer o medo de ser o próximo alvo de uma pata de sua estrututa infortuna.

Sempre com a antiga regra: Basta criar violência para submeter o outro às nosss genuínas vontades, quando finalmente se entregam ao medo das terríveis atrocidades, a descompensação de poder estará recriada, agora,

a favor de nosso ego.

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"Queria mesmo saber

Se essa vontade genuína

De possuir o outro

Vale o medo imposto."

FlávioDonasci
Enviado por FlávioDonasci em 18/08/2018
Reeditado em 18/08/2018
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