Desaguou no rio Osun

Nunca mais entrei numa igreja, rezei um terço ou fiz uma prece. Continuei pela estrada e não me aproximei de mais nada que me afastasse de mim mesma. Dei ouvidos ao meu interior. Dei atenção ao meu sentir. O sentir vem da natureza e eu estava em contato com a terra, a mãe de todas as mães. Eu caminhava o dia inteiro e não sabia direito onde ir, mas sentia estar no caminho certo. Vez ou outra, cruzava com um semelhante. Via na pele e no olhar. A gente se reconhece, carrega a mesma dor e ainda assim, tem o sorriso largo.

Seguia sempre pela beira do Rio, que era enorme e cortava muitas terras. Tinha água verde turquesa e uma porção de conchinhas. Dizem que é porque já foi mar um dia. Eu sempre fico viajando nisso. Será que já foi mar?

Num dia bem quente, resolvi diminuir o ritmo e passar mais tempo na margem do rio, me banhando e descansando dos longos dias de caminhada. Peguei no sono e acordei com o soar de um chocalho. Abri os olhos e lá estava ele: pele vermelha, cabelos longos e o olhar mais instigante que já vi na vida. Não dissemos uma só palavra, mas nos comunicamos. Ahh! Aqueles olhos puxados, que ficavam ainda mais quando sorria. Eu sentia meu corpo quente, apesar de entrar várias vezes no rio. Era uma sensação nova. Ele fazia meu corpo pulsar. Quando colocou sua mão sobre a minha, eu senti o oceano no meu estômago e o rio correr por entre minhas pernas.

Entramos mata a dentro e nossos gritos ecoavam. Nos entrelaçamos. Tudo o que via era vermelho, verde e marrom.

DANIELE PIRES
Enviado por DANIELE PIRES em 24/10/2018
Reeditado em 29/11/2018
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