No Bar

Claro que a gente sabe quando é cliente. Ela veio a pé, porque se ela tivesse carro, estacionaria aqui na frente que é muito mais seguro para uma mulher. Sentou. Achei que fosse tomar uma água enquanto esperava alguém. Não pediu nada, perguntou se podia ficar sentada, mas que estava tudo bem com ela, queria só sentar. Então falei que por mim, ela ficaria, mas o bar enche depois das cinco e o seu Garcia, talvez pedisse para ela ir embora. No dia seguinte, ela voltou com uma cadeira de plástico, branca, acho que ela tinha comprado nessas lojas aqui perto, porque eu vi quando ela tirou o resto do saco que vem ao redor. Aí, eu falei “seu Garcia, ela trouxe uma cadeira e está perguntando se pode ficar”. Ele fez que sim, não tava atrapalhando, nem ocupando mesa e, além do mais, era muito bonita, uma mulher muito, muito, bonita. Quer dizer, não achei bonita logo, porque a gente é acostumado com outro tipo de mulher, aqui, no centro da cidade, dessas com mais carnes. A gente sabe quem é pra gente e quem não é. Nesse dia, ela saiu quase perto da hora de fechar, não tinha mais ninguém na rua, e foi-se sozinha. Veio durante um bom tempo. Achei que ela era estudante de faculdade que faz pesquisa nos lugares assim, com as meninas do Passeio Público, na P.I, com os travecos, mas ela não anotava nada. Um dia ela perguntou meu nome, eu falei “Jonas”, ela me agradeceu “muito obrigada, Jonas”. Nunca mais voltou. Nunca mais apareceu. No outro dia, até prestei bem atenção, se via alguma coisa na televisão, olhei até no jornal, tive a impressão de que ela ia se matar.

(Texto retirado do blog da autora com o escritor Marco Riobeiro http://oquedizemsobreela.wordpress.com/2007/09/)