Tatá na Jaguaribe 9

Se plasmava, Tatá se moldava como queria, " a si em si", para ser numa qualidade mental apta à sobrevivência no limite do possível.

Em meio a cruel adversidade que o destino a expôs, sabia dos contornos, do entorno que a obrigava se estabelecer diante do próprio corpo, e da vida, para não cair no subterrâneo de si, que revelava a realidade do ter que arrastar as pernas, as rodas de uma cadeira, tomar banho em cadeira apropriada, à fadiga muscular, ao escovar os dentes sentada. Enxaguava a boca com copo d`água, porque as mão não tinham o funcionamento motor e muscular perfeito, com sinais do atrofiamento em algumas ligaduras, não sendo possível fazer a conchinha com ela, para acolher a água, e lavá-la até o rosto para o enxague.

Fazia o que a fé e o propósito permitiram, ter a vontade liberta para a melhora dos movimentos físicos. Alguns anos atrás, dormiu com o durex grudado nos olhos, em estado mumificado. Depois de horas dos primeiros sintomas, o abrir e o fechar deles, havia sido comprometido.

Estar onde estava na evolução física, depois de anos, era considerado o fugir das expectativas. Doença que deixou Tatá na linha divisória, entre a matéria e a anti-matéria.

A vontade pura, desimpedida de querer ficar inteira novamente de corpo, naquele estado que nunca deixou de ser de Tatá, sempre foi sua meta. Estar entregue a Providência Divina, querendo o perfeito, o bom, o bem, o belo e o justo, era o seu ideal .

Depois daquele dia, vovô Benito foi piorando nos sintomas, detectaram pneumonia, e a hemodiálise foi a solução encontrada para tirar o paciente do estado extremo a que chegou.

Submetido as duas primeiras sessões, saia fraquinho. As notícias não eram das boas, contudo, foi o modo que a medicina encontrou para mantê-lo em vida.

A desarmonia do funcionamento de órgãos importantes do corpo, coração e rins, em reciprocidade, levou ao extremo do tratamento.

Neste período, o primeiro bisneto se casaria nos próximos dias. Vovô ansiava por ir, ver o descendente de terceira geração casar. Os médicos, até que lutaram, fizeram o possível para que o avô fosse no casamento.

As notícias que chegavam pelas primas, no rodízio de acompanhantes, não eram das boas. A equipe médica decidiu por negar a saída dele do Hospital. Seria risco de vida se assim procedessem. Foi a decisão esperada pela família.

O bisneto, para agradar o avô, grava em vídeo uma fala para ele antes de entrar no salão para a cerimônia, envia pelo WhatsApp,

Vovô assiste, parece comer as palavras ouvidas do bisneto. Se emociona, fica feliz com a realização daquele que há pouco tempo atrás, havia pegado nos braços.

Ao final daquela semana, Andreata, a prima que ficou com o avô para os demais irem no casamento, enviava notícias de que Sr. Benito piorava.

No domingo, saia pouco do leito, falava pouco. A sonolência foi aumentando.

Ao final da tarde, chega a família de viagem. Anunciata, no hospital, passa mandar notícias do avô, que se estendeu até a madrugada.

As onze horas da manhã do outro dia, quando o avô, depois de um estado de diminuição da consciência, com a pressão arterial, por volta de seis por três, foi enviado ao setor de terapia semi intensiva do hospital, conhecida como Unidade Coronária, na mesma torre. Estava no limite.

Apesar do quadro clínico estável, Sr. Benito dormia, respondendo minimamente aos estímulos.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 02/12/2018
Código do texto: T6517261
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