A nova professora

Era pequena; naquele ambiente sentia-se minúscula. Estou sendo chamada, ensaiou, estou sendo transferida, melhor... A diretora, atarefada - primeiros dias do ano letivo. Os alunos em um movimento de vaivém, que aulas vamos ter, que aulas não vamos ter, e daí por diante. Mediu o corredor - longo, frio, apesar do calor de março - com passos que chegaram ao bar, voltaram à sala da direção, foram além, passaram pela secretaria, deram meia-volta. Refez o trajeto várias vezes. Os minutos pareciam fincar pé nos ponteiros imóveis.

Bate o sinal. Ondas de alunos avolumam-se diante da porta da vice-direção. Pais e mães, mais mães do que pais, aguardam. Precisam resolver alguns problemas. A vice-diretora abre a porta de sua sala, murmura umas palavras para alguém que ficou dentro e vem atender um senhor grisalho. Alunos atacam uma professora que atravessa ligeira o corredor: É a senhora...?

Lá no fundo, fica o bar. Tem vontade de fazer um lanche, qualquer coisa para distrair-se. Pensa melhor, prefere deixar o dinheiro para o essencial.

- Chega aqui.

Ela vai. Apresenta-se: veio do interior. Professora de inglês. A diretora olha fixo para ela, um olhar azul em que percebe, mais do que condescendência, determinação:

- Não temos vaga para inglês. Tu vais dar aula de português para o segundo grau.

- Mas...

Recreio. A escola explode em vozes e risos, passos que descem dos andares superiores rumo ao pátio. O 'mas' fica parado no ar.

Béti Mecking
Enviado por Béti Mecking em 20/09/2007
Reeditado em 20/11/2008
Código do texto: T661036
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