Tatá na Jaguaribe 15
Precisava consumar o trajeto até o local, para a despedida no seu exaurimento ser ultimada, sem prejuízo de estar com seu interior pacificado com os desígnios Divinos do ceifar a Alma do ente querido.
Anunciata desligou o carro, houve o agigantamento e domínio do silêncio no interior do carro. As primas passaram não conversar, muito menos dirigirem olhares.
Bibi desce do carro, vai até o porta malas do carro para pegar a cadeira de rodas.
Tudo tão bucólico, inexpressivo para acalentar a dor da ausência.A mudez do momento dizia por si. O exterior, o ambiente comunicava que ali era o fim. Foi o fim da história do avô na Terra.
Tatá, depois da ausência do barulho do motor, percebeu o silêncio e seu avivamento. No cemitério, tudo fica respondido, o fim do corpo físico. Nele, reside o assento da verdade; de que o ponto final é colocado. O selo entre os mundos, o sigilo, a manutenção da mordaça, o impedimento da razão sobre o esclarecer-se dos motivos da soberania da morte.
Os mistérios primeiros e últimos da vida encontram casa naquele espaço, impondo limite e emudecimento para a mente que move o corpo. Reservado o revelar destte mistério, ao secreto daqueles que submeteram ao hiato, super esforço que ninguém vê, para alcançar a alforria sobre a morte, o “status” de verdadeiro filho de Deus. O homem perfeito.
No Adro, no Almocábar, no Almocávar, no Campo-Santo, o Covão, no Sepulcrário, no Necrópole. Nomes dados nos tempos pelos povos do mundo para o local onde irmana o silencio sobre as verdades últimas da vida. O “dormitório do cadáver”, cama onde se aloca a carcaça corpórea inanimada que deu vida a uma alma num determinado período.
Desceram do carro. Tatá levantou as pernas com o esforço maior do que despendia para locomover o corpo, o peso dos membros que sentia diuturnamente para locomover. As sequelas da doença que portou em anos anteriores, foram sobrecarregadas naqueles instantes.
A consciência era o palco do confronto entre a perda, o luto, o fim declarado do corpo do avô, e a fala com Deus, de que para a Alma não é o fim .
Naqueles segundos, onde Tatá abriu a porta do carro e levou o corpo pelas pernas e pés carregados de peso até a cadeira de rodas, pôde sentir a personalidade demasiadamente humana, que chora, encontra seu limite, sua incompetência, e àquele outro departamento, à alma, encontrando guarida na fala sem palavras de Deus, que a aquietou, a tranquilizou, a confortou, deu ímpeto para o seguir.
Nos pequenos calçamentos dos túmulos circunvizinhos ao do falecido avô, era repleto de obstáculos de difícil passagem. Bibi foi insistindo no conduzir a prima Tatá até o local do sepultamento na cadeira de rodas.
Foi agigantando em Tatá a impossibilidade de continuar o trajeto, pedindo a Bibi que a levasse de volta para o carro, iria ver o túmulo de lá. Estava muito difícil continuar.
A prima insistiu, esforçando para que Tatá se aproximasse até o túmulo.
Chegaram no local.