Tatá na Jaguaribe 16

O vento soprava as folhagens de uma pequena árvore próxima ao túmulo. Passarinhos eram ouvidos no cantar, risadas das crianças que brincavam em quintais na redondeza, e as ferpas da saudade cutucava a pureza da alma.

Ainda não tinham providenciado a placa com a foto e a data do nascimento e falecimento do avô. Avistaram uma foto amarelada anexada na cabeceira, era da tia-avó, que havia falecido anos atrás. Os azulejos do túmulo estavam esbranquiçados pela corrosão do tempo.

Não conseguiram chorar, nem conversar, ficaram alguns instantes envoltas no jazigo. Tudo foi ficando sem gosto, estar naquele lugar levou a um desencaixe de sensações, que expulsaram, espirraram as mulheres dali. Sentiram que era hora de retornarem.

Foram embora mudas. Era hora de tocarem a vida para frente, decomporem o apego à partida, conviver com a saudade, e a continuidade do existirem sem o avô.

Depois da penúltima internação, Sr. Benito retornou pouco confiante no tratamento. A Diálise domiciliar restou frustrada. Seria conveniente e oportuno que fizesse as sessões de hemodiálise no Hospital Escola onde dava seguimento ao tratamento.

Passou realizar três sessões de hemodiálise por semana, eram as terças, quintas e sábados. Não gostava da cidade grande, por isto, viajava os três dias para a realização das sessões.

Benito foi entristecendo, o estado psicológico sendo corrompido pela rotina. Era atento, tinha consciência do agravamento da doença e das poucas chances de sobrevida, mas insistia na fé na vida, em Deus, na certeza que teria solução para a doença aguda que portava.

O fato é que os rins e o coração tinham perdido sintonia, não falavam mais a mesma língua, as medicações, um pouco desregradas pela resistência a elas, Sr. Benito chegou no estado terminal da doença.

Insistiu na dignidade de ser independente, mesmo sugerido a ele e à família que não dirigisse o veículo automotor, pelo risco de ter a qualquer momento, morte súbita.

Mesmo sob protesto da família, pegava seu carro, dirigia na cidade. Às vezes, ia até outras circunvizinhas. Pregava, orava, era homem religioso, amava o que fazia, era seu tudo, até reclamava de ter que andar com o caninho de acesso no pescoço exposto sobre o colarinho da camisa, da gravata e do paletó; achava que ficava uma armação o conjunto.

Mesmo assim, vestia-se, pegava os objetos de culto, e ia para o templo.

Estava na expectativa, tinha sido o colaborador na ideia da construção de um novo Templo na cidade onde residia, estava em fase de reboque das paredes, era uma construção de porte médio, tinha o sonho de vê-la terminada, ia ao local e retornava feliz, esperançoso em vê-la acabada. .Não conseguiu realizar-se no objetivo, foi embora antes.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 12/09/2019
Código do texto: T6743709
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