CISTO NOS OVÁRIOS

O negócio de caminhoneiro estava difícil, para Máxi, em razão da forte concorrência. Esse foi o motivo por que deixou sua pacata cidadezinha, no Sul e partiu para São Paulo, onde encontrou uma boa oportunidade: transporte para vários outros estados, principalmente do Norte e do Nordeste. O inconveniente, no entanto, era a família: Frida, a esposa e seus dois filhos, Artur, de oito anos e Shirley, de seis, que não o acompanhariam. Para visitá-los, só a cada dois ou três meses. Era a condição. Mas era, também, a alternativa, por meio da qual poderia continuar a oferecer oportunidade de vida digna aos seus.

O início foi realmente muito difícil. Não fosse a internet, por cujo intermédio se comunicavam diariamente, ele teria desistido na primeira semana.

Longe do marido e com a desculpa de que precisava espairecer, Frida passou a sair de casa. Aproveitava o período vespertino, quando os filhos estavam na escola e ia, em companhia das amigas, até a cidade vizinha, onde visitavam barzinhos, shopping e outros locais.

Assim foi que, quando Max fez sua primeira visita à família, três meses depois, Frida comunicou-lhe que fora localizado um cisto em seus ovários. O abdômen, em consequência, já estava ligeiramente crescido e as dores a incomodavam. Porém Máx não precisava se preocupar, porque ela já estava em tratamento, tudo por conta do plano de saúde, com um bom médico da cidade vizinha. Em pouco tempo estaria boa, com toda certeza. Nada de muita gravidade. Ele poderia voltar tranquilo e em paz para seu trabalho, que tudo haveria de correr bem. Que não ficasse preocupado.

A princípio, Max ficou preocupado, sim. Disse que largaria tudo para estar junto dela, não a deixaria só, num momento tão delicado.

- Nada disso, homem, de Deus, não é nada grave. Te farei saber todos os dias a respeito de como estou. Além do mais, dependemos de teu trabalho, lá, para vivermos. Podes ir tranquilo. Está bem? Te amo muito.

Trocaram juras de amor e Máxi prometeu à esposa que, em mais um ano, dois, no máximo, poderia voltar em definitivo, ou então se mudariam para São Paulo. E retornou, nada tranquilo. No entanto confiava em Deus e confiava também na esposa.

Mais dois meses e ele não se conteve. Embora com notícias diárias, precisa ver sua “alemoa”, como dizia. Relatou a história a seu gerente, conseguiu uma dispensa de dois dias e rumou para o Sul.

Embora a doença de Frida não tivesse piorado, segundo ela, a barriga estava um pouco maior e dolorida. Por isso não poderia ser tocada e ele aceitou sem questionar.

- Está tudo sob controle - ela continuou. O médico disse que está tudo bem, é assim mesmo. Não há por que te preocupares. Estou feliz por teres vindo nos ver, mas deves voltar para teu trabalho e só vires, quando realmente puderes. Não peças dispensa desnecessária, para não criares problemas no trabalho. Nós te amamos.

Assim, Máxi partiu. Ia triste, mas precisava ir. Só voltaria em três ou quatro meses, em decorrência do acúmulo de serviço.

Frida espalhou entre as amigas a história do cisto, porém já não as acompanhava. O volume abdominal, embora pequeno, a constrangia. Vez por outra ia à cidade vizinha, só.

Antes de terminar o quarto mês, para a volta do marido, disse a ele que seria operada na semana seguinte. Que estava tudo bem; que seria bem cuidada por sua mãe e que ele não se preocupasse, só viesse no dia preestabelecido pela empresa.

Isso feito, já no dia seguinte, ela foi à maternidade. Conforme combinara com o médico, a cesariana foi procedida e o cisto dado à luz. Do sexo feminino, que ela fez questão de não ver. Era só um cisto.

Para Frida estava resolvido. Casamento salvo e consciência tranquila.

MCSobrinho
Enviado por MCSobrinho em 06/09/2020
Código do texto: T7056315
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