TENTÁCULOS

Ainda me lembro daqueles dias em que eu queria ser como um polvo. Queria ter tentáculos para abraçar tudo o que quisesse, tudo o que aparecesse em minha frente. Chegava até a pensar que por mais tentáculos que eu tivesse, não daria conta de abraçar tudo.

Todos os dias eram insuficientes, sempre era necessário mais um pouco de tempo. Tempo para andar, para correr, para amar. Para chorar e brigar, também. Para me sentir feliz, alegre, triste, aborrecido. Eu queria tudo. Era um grande ganancioso de sensações, de emoções. E queria materializar minhas sensações, minhas emoções. E queria ter tentáculos para agarrar tudo e não deixar mais ir embora.

Hoje, acho que não posso dizer que não tenho tentáculos. Sim, eu os tenho. Uma grande ironia. Tanto eu quis, que consegui. Mas o tempo me é cada vez mais curto. E também, os tentáculos não saem de mim, como eu queria que fosse, para que eu pudesse agarrar tudo o que quero. Os tentáculos chegam até mim, vindos do vazio, e me agarram, me sufocam.

Mas me provocam delírios. É certo que esses delírios são novidade para mim (ou eram, porque já faz um certo tempo que eles me acompanham). Sempre que fecho os olhos, aquelas imagens aparecem. Imagens provocadas pelo meu medo, pela minha tristeza por causa do que aconteceu. Está certo; me abalei muito com isso, me impressionei, e meu cérebro ganhou essa autonomia desejada e indesejada. Essa autonomia de produzir imagens e sensações contra a minha vontade. Imagens e sensações ruins, péssimas, que me sufocam como tentáculos que me agarram.

Mas sempre desejei experimentar sentimentos intensos. Não sei se devo me arrepender de ter desejado isso.

O fato é que, de toda forma, tenho pouco tempo. Logo serei mais uma partícula no nada. O câncer que me consome faz os tentáculos crescerem cada vez mais e me sufocarem. Logo, estarei totalmente envolto por eles e desaparecerei no interior daquilo que sempre desejei (não exatamente dessa forma).

Meus tentáculos.... que não são meus.....