Apenas “eu te amo”

Ele saiu de casa há muitas horas, não ligou para a aparência, trajava shorts, chinelos surrados, e uma blusa de malha velha e cabelos despenteados. Ele só queria sair sem rumo, foi andar. Andava pelo canteiro central da avenida, sem se preocupar com nada seu pensamento era só um, Ela.

Cruzava as ruas sem se preocupar com o tempo ou com sua própria segurança. Já não sentia calor nem frio. Quantos momentos não iriam mais viver juntos. Não iriam mais cantar karaokê, não iriam mais ler na livraria, não iriam mais a praia, não iriam mais rir juntos. Tantos planos que ainda não realizaram, não foram andar de barco no Amazonas, nem pular carnaval no Rio, não viram cometas no topo da colina... não... não... Não iria mais tê-la em seus braços.

As lágrimas caiam aos poucos. Lembrou-se das surpresas que fazia para impressioná-la, do seu sorriso, do seu olhar. E pensar que não ia mais vê-los, olhos que falavam a verdade, que expressavam carinho, que inspiravam. Olhos de mil cores, que misturavam as diferenças e que refletiam o seu amor.

O chinelo quebrou e ele continuou a andar descalço, sentia o chão, as pedras e nada parecia interferir. O que era aquela dor comparada a dor que sentia internamente, a dor que ela passou. Seus pés a levavam longe, como ela era batalhadora. Era realista e sonhadora, como a terra e o vento.

Aquelas frases no telefone ainda ecoavam. Ela se foi. Ele ainda não acreditava, não disseram que se amavam o suficiente. Ele só queria dizer mais uma vez “eu te amo”. Porque não disse isso sempre? E agora não terá mais como. O tempo passou, a voz dela se apagou, mas não na sua mente, lá ela estava rindo, cantando, pulando... estava viva.

Então ele parou. Algo o fez voltar a realidade e ele vislumbrou o horizonte. Coincidência? Ou não. Ele estava no parque do começo, ou seria o parque do fim? Lá ele a pediu em namoro, deram seu primeiro beijo, disseram pela primeira vez “eu te amo”. Mas foi ali que ela levou um tiro, e ela passou a andar na tênue linha da vida e da morte, até aquela manhã. Quantos amores e sonhos não foram ceifados pela violência?

Ele olhou para aquelas árvores e para aquele banco. E pensou como o tempo é realmente curto para ficar com aqueles que amamos, compartilhar sonhos e viver. Tudo o que ele queria é dizer apenas mais uma vez “eu te amo”.

Bruno Edson
Enviado por Bruno Edson em 08/01/2021
Reeditado em 09/01/2021
Código do texto: T7155313
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.