_________Léo e Lali


Enrolado na toalha, entre vapores e cheiro de sabonete, Leonardo saiu do banho assoviando um sambinha. Ao ver o marido escolhendo a melhor roupa, Clarisse o interpelou: — Quando vamos ter aquela nossa conversa, Léo? Visivelmente aborrecido, carregando na ironia, ele cravou: — DR, Lali? Pelo amor de Deus! Amanhã! Amanhã, depois da chuva...

 Amanhã, depois da chuva... Era  o que Clarisse mais ouvia nos últimos tempos, quando tentava qualquer diálogo. Leonardo pegou a chave do carro e saiu batendo a porta. Ela não pôde evitar o pensamento: se aos cinco de casados, já estavam naquele pé, imagine aos quinze, aos vinte anos... Sem qualquer chance de futuro!

A verdade é que o marido estava mudado. Agora era chegar em casa, tomar o banho cheiroso e voar pra casa do Beto. Ia jogar, ele dizia. Mas ela não era boba, farejava algo mais naquelas escapadas noturnas. A verdade também é que andava cansada daqueles  evasivos  Amanhã, depois da chuva!

E depois... Havia o Rubinho — o rosto se iluminou —, era claro que o colega do escritório estava apaixonado! Vinha dele a rosa de todo dia enfeitando sua mesa de trabalho. Os bombons e os bilhetinhos de “te admiro”  também... Ele não confessava, mas ela sabia: eram todos dele aqueles mimos deliciosos. Ah, que tempão estava perdendo!

Choveu a cântaros. A noite escura, clareou ideias: Clarisse achou que não merecia tamanha solidão. Quando Leonardo chegou, com a cabeça cheia de uísque e uma mancha de batom na camisa, viu o bilhete sobre a mesa: Estou indo pra sempre, adeus!

E foi assim que finalmente a feliz ruptura aconteceu: depois da chuva...