Marido dois – a degradação total. Mudam as personagens, a história se repete.

Em algumas relações o componente que faz a liga é doentio, pensava Lígia em frente ao espelho naquela manhã ao se preparar para trabalhar.

A mulher atraente de 35 anos, depois de um casamento fracassado apaixonou-se perdidamente por um homem que viria para destruí-la de todas as maneiras inimagináveis.

Jorge ainda dormia depois de usá-la sexualmente de forma perversa por parte da noite, agora tinha o semblante tranquilo.

Olhando assim, ela olha não consegue acreditar que a face quase infantil abrigue tanta maldade.

Misto amor e ódio, beija a boca entreaberta e sai para o trabalho, terá algumas horas de descanso mental e emocional, sem ser invadida pelos ataques constantes que ela se permite suportar, nem sabe mais o motivo.

À noitinha, ao regressar, exausta mas finalmente desintoxicada por algumas horas do relacionamento abusivo e permitido, ela entra em casa e ele dorme bêbado no sofá.

Pelo chão bitucas de cigarro e copos espalhados pelos móveis já desbotados pelos líquidos alcóolicos.

Encaminha-se para o banho, não tem um companheiro para dividir suas questões emocionais nem sociais do trabalho, amigas, família, aliás cada vez mais distantes, pois não reconhecem a mulher outrora cheia de vida e alegre.

O banho é solitário, como solitária ela se sente, ainda amando aquele homem, mas já começara a traí-lo na vã tentativa de vingança das humilhações constantes que é submetida por amantes dele que ficam ligando inclusive à noite, tornando o despertar assustador e traumático, pois ouve a voz dizer que naquele momento Jorge está ali com ela e algumas obscenidades de mulheres vulgares.

Tentativa inútil, porque ele descobre e ri dela, cada vez mais amargo e cruel, diz que ela está se transformando numa vagabunda.

Para exercer seu poder, Jorge começou com jogos cruéis, fazendo-a se sentir inferior, nunca reconhecendo seus méritos e rebaixando sua autoestima duramente conquistada.

Ligia sente-se sempre devedora de favores ou pedidos de desculpas, jamais aceitos, pois ele argumenta que se ela o trai não merece respeito.

Misto amor e ódio, tem dias de deseja-lo intensamente, apaixonadamente, quer a fusão total. E tem dias de rejeitar qualquer contato físico sem sucesso, pois ele a toma à força, submetendo-a a variadas humilhações sexuais, cada vez mais doentio, ele ama loucamente, e quer que ela o aceite de qualquer maneira, quer que seja sua exclusivamente.

Ligia procura mais amantes para vingar-se no que mais dói no marido, a traição, mas nunca é bom, nunca é satisfatório.

Ela está doente, tem que ser com ele, do jeito que der e como ele quiser.

Durante algum tempo consegue levar a situação, mas um dia, durante uma briga, Ligia joga na cara dele que tem outros homens, e detalha tudo, como são gentis com ela, como ela consegue orgasmos fantásticos.

A resposta vem com um tapa no rosto, as marcas das mãos tatuadas no rosto pálido e bonito.

A partir deste dia, aumentam as humilhações, pois durante o sexo ele cita os amantes, pergunta se sabem fazer como ele faz com ela, exige detalhes e a obriga a falar. Ele fica mais excitado ainda, e com força investe contra o sexo dolorido e machucado, o corpo de manchas roxas marcado, o olhar vazio na tentativa de levar a mente para um lugar bem longe, um lugar onde tenha paz, finalmente.

Enfraquecida emocionalmente ela desiste de lutar. Aceita as humilhações físicas e emocionais, até que um dia, sem poder livrar-se de suas amarras e do relacionamento doente, ela caminha até o rio.

Por baixo do vestido, pedras imensas fortemente presas com cordas às suas pernas, dificultando o caminhar lento e penoso.

É com o olhar finalmente sereno que começa a caminhar rumo ao fundo do rio, finalmente em paz.

Jeanne Geyer
Enviado por Jeanne Geyer em 27/03/2021
Código do texto: T7216910
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