Borboletou Com a Asa Dura 4

Aquilo que vivia no cômodo do desapego em repouso, foi revelado, o subjetivo de uma menina organista de uma denominação religiosa, exposta aos efeitos adversos, manobrista de uma fé cega que a levou exteriorizar a ligação com o Divino infrutiferamente, numa escancarada perda de energia.

Até que a angústia a dominou, e os berros do desespero a levou para dentro, pedindo à Fonte Divina sua identificação. Queria viver a experiência com o Sagrado.

Não que sua experiência distorcida com a espiritualidade tenha sido motivo único do seu fracasso ao realizar os primeiros passos de sua jornada na Terra. Não ficou perdida.

A vontade ardente na primeira infância de cantar louvores, brincar de cultinhos com amigos, elevar seu pensamento para a vida espiritual, pensar sobre o fim das coisas, refletir sobre as vaidades humana, foi o esterco que vitaminou o solo do inconsciente para o Ser tomar impulso rumo à libertação da Alma.

Mesmo sem querer, muitas vezes, ir aos cultos mais de três vezes por semana, indo em até três por domingo. O hábito a revelou na persistência em não desistir da necessidade intrínseca de ser feliz. Não como um fim em si mesma, mas na certeza de que era feita de matéria Divina.

Pensava. Como? tanta beleza que reina na natureza? Tanta grandeza manifesta no firmamento; Sol, planetas distantes, galáxias. Quero perder o medo da morte, entender da minha constituição! Sentir Deus. Sentir Deus!!!

Reportava-se a um Deus externo, que a julgava, a absolvia, e a condenava constantemente. Tratava a si mesma como um objeto, que não podia pisar no chão do mundo, como ele era, certa de que a felicidade somente teria depois da morte, na cidade celestial.

Daí a ilusão de ótica, quando executava a melodia no órgão não se via como Una com Deus, tinha ainda que cumprir as exigências para ser eleita, levava a si mesma na cadeira de ré, colocava a si mesma em julgamento, exarando a própria sentença.

Para os olhos e ouvidos atentos, enxergará o absurdo da autopiedade, cupidez, culto ao auto sacrifício, produto da religião da reforma, ou, até mesmo, resquícios da ortodoxia cristã, que, pela dificuldade dela de compreender a essência dos ensinamentos do Mestre Cristo Jesus, confusa e incompleta na interpretação da religiosidade vivida pelos primeiros cristãos, discípulos direto do Mestre, levou seres ao entorpecimento do espírito, muitos, indo desta para outra vida esquecidos, enfraquecendo dos canais da natureza da alma, que leva à integração com o Sagrado.

Funções do corpo, que eram para o serviço de louvor e regozijo, sendo a organista, a primeira que deveria ter comido do elixir do cântico, era ferida por si mesma pela visão cega da alma.

Onde estaria Deus? No Tribunal, o mesmo que diariamente manifestava suas faltas nas correções nos cultos pelas pregações, advertindo-a, ameaçando-a, vez outra, tirando-a da prisão, dando-lhe mais uma chance?

Não conseguia vê-lo mais nesta condição, passou participar de espaços mais íntimos de si pelo coração, quando, em silêncio, deitava no cimento do quintal de casa ao final do dia apreciando a passagem do dia para noite. Seja quando ouvia músicas orquestrada do mundo, ao ponto de não caber mais espaço para o tempo, somente “Eu”.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 30/03/2021
Código do texto: T7219775
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