No tempo em que as moças casavam moças
 
No fim da tarde, o rapaz viu a amiga de infância no ônibus com o namorado. Nunca lhe tinha passado pela cabeça ver a cena que mais dia menos dia iria acontecer. Sentiu não sabia bem o quê. Era ciúme.
 
Na manhã seguinte, telefonou fingindo jogar conversa fora. Ela perguntou o que ele tinha achado do namorado. Entre cretino, mentiroso e zombeteiro, ele respondeu eu o conheço da Otília. Nem frequentava casa de mulher.
 
- O quê? Que Otília é essa? – ela perguntou, surpresa.
 
- Uma cafetina. O bordel mais famoso de Curitiba atualmente.
 
- Ai, que nojo!
 
Ela desmanchou o namoro.
 
Dias depois, ele a encontrou sozinha no ônibus. Dividiram o mesmo banco. Conversaram. Desceram juntos. Deixando-se levar pelas pernas, acompanhou-a até o portão de casa. Instintivamente segurou a mão da moça e perguntou:
 
- Leocádia, quer casar comigo?
 
Ela arregalou os olhos verdes, paralisada. Recobrou a plenitude dos sentidos e respondeu perguntando:
 
- Promete que não vai na Otília?
 
- Juro!
 
Só para dizer que a história termina, mas não acaba como um conto de fadas, finalizo contando que eles casaram, tiveram filhos, gato e cachorro. Brigaram e fizeram as pazes muitas vezes. E viveram felizes para sempre...
 
Fim
 
 
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N. do A. – Na ilustração, Moça com Livro de José Ferraz de Almeida Júnior (São Paulo, 1850-1899).
João Carlos Hey
Enviado por João Carlos Hey em 23/05/2021
Reeditado em 23/07/2021
Código do texto: T7262342
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