Na Hora Da Saída

Eric do Vale

Para Mario Henrique Verissimo Batista

Na época de colegial, eu me envolvi em uma rixa com um pessoal da outra sala, por causa de um colega que andava comigo. Todo mundo, naquele colégio, conhecia a reputação daquela turma que fazia jus a política de “cada um no seu quadrado”: playboys, as patricinhas e os peatboys. Esses últimos é que se invocaram com a gente.

A desavença desse grupo com o nosso amigo vinha desde a série anterior. O ano letivo sequer havia começado e eles já estavam marcando colado na gente.Um dia, após o intervalo, estávamos voltando para a nossa sala, quando alguém dessa turma deu um tapa nas costas dele. Muito esquentado, o meu amigo avançou nesse cara, mas foi contido pela professora de biologia que havia chegado, naquele momento.

A história repetiu-se, dias depois, antes de começar a primeira aula: esse nosso amigo encontrava-se na companhia de alguns colegas, quando um rapaz dessa sala chegou acompanhado de um baixinho que estudava em uma série acima de nós. De repente, o meu amigo partiu para cima desse baixinho e saíram no braço. Assim que foram separados, o coordenador, que tinha visto tudo de longe, falou:

-Os dois na minha sala, agora.

Depois de serem advertidos, cada um voltou para a sua sala.

Naquele mesmo dia, não me contive e fui tirar satisfação com um garoto loiro que estudava na mesma sala que a nossa. Levantei-me, fui até onde estava sentado e questionei:

-O que é que está havendo?

-O que foi?

-A gente não tem nada contra você; mas, se quiser, podemos ficar, agora mesmo.

Tenho absoluta certeza de que ele vinha fazendo intriga da gente com aquele pessoal, porque era muito próximo deles. Além do mais, esse loirinho não era muito bem entrosado com ninguém da nossa sala.

Durante o recreio, fomos avisados de que eles iriam ajustar as contas conosco, após a aula. Telefonei para o meu irmão mais velho, pedi que viesse para o colégio e trouxesse o nosso dobermann, Zeus.

Na hora da saída, estávamos todos lá de punhos cerrados, em frente ao colégio. A gente em uma calçada e eles na outra. O meu irmão chegou trazendo o Zeus; um ex-colega de sala que havia repetido de ano aproximou-se da gente e perguntou para mim:

- Qual vai ser?

-Não sei, mas eles que se atrevam.

Éramos cinco, mas eles, sem exagero, eram cinquenta. Bastasse alguém daquele grupo dar um passo, soltava o Zeus para avançar neles.

Havia gente que ninguém nunca tinha visto ali, no colégio. Acho que nem estudavam lá. No final das contas, aquilo não deu em nada. Todo mundo foi embora e depois, as coisas voltaram ao normal. Contudo, jamais me esqueci daquele fato; assim como nunca entendi o porquê de eu ter me envolvido naquilo.