O amor em todos os seus aspectos

Com um envelope entre os braços abri a porta do inferno, eu tinha o passaporte. Fui recebido muito bem.

Conversava com o resposável daquele setor e o perguntei o porquê dos cidadões da parte superior serem tão mesquinhos e ignorantes. Ele saboreou sua bebida e pude ver um sorriso meio que sarcastico desenhando sua face, porém não respondeu minha pergunta. O alertei que já tinha em mãos o contrato, precisava apenas de seu carimbo para assinar o mesmo. Derrepente assustei-me:

- É isso que você realmente deseja, senhor?

Perguntou-me aquele ser que trajava um belo terno riscado. Eu voltei a minha natureza e o respondi com serenidade e afinco. Olhando diretamente para os meus olhos ele me disse:

- Bem, pelo o que vejo aqui você perdeu tudo o que tinha num só dia. Estou vendo que você matou a sua esposa por tê-la visto com outro homem em sua cama. Depois adentrou uma faca em si. Eu o interrompi socando sua mesa:

- Eu fiz isso tudo por amor, e olha aonde estou: no inferno!

Foi quando ele abaixou a cabeça e respondeu:

- Eu estou aqui a mil anos, tudo porque amei demais uma mulher, essa me traiu, matou meus filhos e os queimou. O meu pecado foi não fazer nada, depois de dois anos, a mesma me matou dormindo.

- E porquê você está no inferno?

O perguntei, veio, sem hesitação, a respota em seguida:

- Pois foi o caminho que eu escolhi

- Não acredito nisso!

Falei, o segurando pela gola de seu terno:

- Porque você escolheu vir para o inferno? Eu acredito que não o obrigaram a vir para cá!

- E não o fizeram! Vim para cá justamente para encontrar a mulher que me assassinou, eu a amo e sei que ela virá para cá. Não entendo o que ela fez, mas até hoje aguardo explicações de suas ações. E vou ficar por aqui até ela aparecer, mesmo que isso leve a eternidade...

Depois disso, me sentei, passaram mais mil anos e aquele que trajava o terno riscado a esperava. Eu percebi que nunca senti amor na minha vida. Eu nunca iria chegar no inferno por opção própria, mas ele o fez...

Marcelo Garvey
Enviado por Marcelo Garvey em 12/11/2007
Reeditado em 13/11/2007
Código do texto: T734625
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.