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Quando nos sentamos na rocha velha, desgastada pelas ondas repletas de espuma que contra ela batem, contamos os segredos de cada vida perdida em cada serpentear do mar em remoinhos que engolem as almas pela eternidade. Para sempre ficam essas memórias, assim como a velha caneta que desassombrou as memórias cicatrizadas de cada um de nós. Lembrei-me dela, do afecto que sentia ao ler os pecados expostos em delírios poéticos, por vezes kafkianos de tão elaborados e dedicados à burocracia dos acentos e das rimas. Aquela rocha tinha uma intimidade enorme com a velha caneta e depois com a mão amiga que soletrava como ninguém os sentimentos guardados de cada alma perdida, na espuma de cada onda, que se encontrava célere com a rocha desgastada.

A velha caneta, muitas vezes a enchi de novo com tinta e, ainda mais a pousei na folha solta onde acalmava as minhas tormentas, sem motivo aparente. Depois caminhava pelas noites frias de um Verão atípico arranjando inspiração para satisfazer o desejo de escrever com a velha caneta que desassombrou os fantasmas todos que havia na vila. Gostava mesmo que ela fosse condecorada pelos trabalhos intensos em prol da paz de espírito que sempre nos acompanha ao ler todo o conjunto de palavras transformadas em poema ou romance assolapado de aventuras num assomo vibrante de vida. E por vezes sinto as boas vibrações da caneta quando a envolvo na mão e uma aventura épica está prestes a sair da sua ponta azul, cor indelével do Céu!
Manuel Marques
Enviado por Manuel Marques em 01/10/2021
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