LEMBRANÇAS DE CARMINHA

   Carminha era uma garota inteligente, dócil, mimada, chorava por qualquer motivo, se tirasse nota baixa no colégio, se seu time não ganhasse o jogo ou se perdesse algum objeto mesmo que fosse de pequeno valor. Todos já a conheciam e às vezes até faziam chacotas com ela, mas depois ela se recompunha e tudo ficava bem. Ela era tímida demais, de cor branca ela ficava vermelha quando se via numa situação complicada, mas no fundo era uma boa menina, obediente e respeitadora.

   Apesar de ser da minha classe eu tinha pouco contato com ela, conversávamos algumas vezes coisas triviais relacionadas a notas e assuntos das aulas, eu sentia que ela "fugia" de mim fora desses assuntos, mas isso era apenas um pressentimento meu, pois diante dos outros alunos Carminha se comportava normalmente, era mais atenciosa, segundo meu pensamento que poderia até estar me enganando. Desde o primeiro ano ginasial que estávamos na mesma classe, ficamos até o quarto ano, nosso papo não passava de banalidades estudantis, mas foi aí, nesse finzinho de permanência nesse colégio, que o meu sentimento começou a mudar, eu via nela uma futura namorada, uma garota que gostasse de mim como eu passei a gostar dela. Comecei a sonhar abraçando-a e até beijando sua boca, era uma magia impressionante e eu ficava chateado quando acordava e o sonho se dissipava me fazendo até recusar abrir os olhos para não deixar desaparecer a cena. Ansiava sonhar novamente na noite seguinte, já que na realidade eu não conseguia dizer uma palavra para ela sobre esse meu sentimento de adolescente.

   Chegou o final do período quando eu cursava o quarto ano, Carminha estava ali, também não ficaria no colégio e a minha grande preocupação era não "desgrudar" dela, mas como? Eu com aquela timidez toda, querendo falar algo para ela, mas sem coragem. Ainda me lembro quando fizemos as provas finais e depois da última prova ela veio sorrindo para mim e me abraçou, uma coisa que nunca fez antes. Foi um sorriso diferente, com um toque de mistério que eu interpretei temporariamente como um "aviso" para que eu tomasse uma decisão. Mas eu tive receio e apenas sorri para ela retribuindo aquele abraço com um certo "calor". Algo mexeu comigo, meu coração disparou como louco, mas eu aceitei essa situação como normal. Enfim o ano terminou e eu não mais vi Carminha, mas ela continua povoando a minha mente e os meus sonhos.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 10/01/2022
Reeditado em 10/01/2022
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