PÁSSARO SOLITÁRIO

   O sol já demonstrava que queria visitar o outro lado do planeta, a tarde findava e uma estranha melancolia tomou conta de mim. Olhei o horizonte naquele lugar silencioso e desabitado, contemplei o céu azul e algumas nuvens alaranjadas pelo efeito do sol e percebi que um par de asas exaustas desafiava o vento e tentava uma espécie de pouso forçado em um galho de uma das árvores ali existentes. Foi o que ocorreu com aquele pássaro talvez ofegante e que tenha com certeza percorrido uma distância considerável.

   Começava a escurecer quando o pássaro conseguiu um lugar num galho de uma frondosa árvore, ficando no meu campo de visão. Ali se aquietou e ensaiou um canto como a agradecer ou lamentar pela solidão que o envolvia. Me pus a imaginar a sua trajetória e, conversando com meus botões, deduzi que ele não se sentia bem por estar só. Não tinha outro pássaro nas redondezas que pudesse lhe fazer companhia, a tristeza tomou conta daquela pequena ave e eu resolvi intermediar a minha nostalgia com a dele emitindo sons semelhantes a pássaros. Ele que já dormia, abriu os olhos e fez alguns movimentos com a cabeça como a me agradecer por saudá-lo. Era evidente que ele estava cansado, mas emitiu também um canto que me pareceu de tristeza. Depois fechou os olhos e conseguiu repousar tranquilamente tendo a minha pessoa como companhia.

   Na manhã seguinte, bem cedinho, acordei com um canto mavioso e me surpreendi, pois ali na minha cabana nunca tinha ouvido canto assim. Abri a janela e tentei encontrar o autor de tão maravilhosa melodia, o que vi de imediato. Era aquele pássaro (identifiquei pela sua plumagem) que, numa cerca de arame, fazia os mesmos movimentos com a cabeça e não parava de cantar. Alçou vôo, fez algumas evoluções como a me cumprimentar e tomou altura seguindo a sua trajetória. Pensei que estivesse sonhando mas os primeiros raios de sol já batiam em meu rosto, a realidade se fez presente.