EU SÓ QUERIA OUVIR SUA VOZ

   Eu sempre fui um rapaz tímido, tive poucas namoradas por conta do meu jeito de ser. Muitas vezes eu era criticado pelos próprios colegas do bairro por ser "diferente" deles, por não ter iniciativa para conversar com uma garota ou pedir alguma em namoro. Jamais me passou pela cabeça encarar uma jovem e dizer: "você quer namorar comigo?" Tinha sim algumas meninas com quem eu conversava, mas não passava de uma simples amizade.

   Comecei a trabalhar aos 18 anos, era meio acanhado mas consegui me desenvolver bem no emprego. Certo dia quando ia para o trabalho, dentro do ônibus, uma moça me chamou a atenção. Ela subia umas três ou quatro paradas depois da minha, usava uma saia curta que deixava ver os contornos de suas belas pernas, era um tipo "avançada", como se costumava dizer naquele tempo. Me agradei daquela jovem e passei a observá-la quase que diariamente, pois tinha dias que não a via subir no coletivo, o que me deixava um pouco triste. Depois de seguí-la, já que ela descia na mesma parada que eu, descobri onde trabalhava. Nunca nos olhamos e nem tão pouco trocado palavras, mas pelo nome da firma onde ela trabalhava descobri o telefone de lá através do catálogo telefônico. Liguei e por sorte minha foi ela quem atendeu. Sua voz era doce e se mostrou muito educada e atenciosa. Inventei uma desculpa qualquer e iniciei uma conversa depois de indentificá-la, inclusive seu nome lhe perguntei. Cortejei-a pelo seu visual e roupa, ela agradeceu mas preferiu não continuar com uma conversa "sem futuro". Sandra era a sua graça.

   Os dias foram se passando e eu encantado com Sandra, observava ela durante todo o percurso do ônibus, mas não me dava coragem de lhe dirigir uma palavra. Descíamos como dois desconhecidos e eu me limitava a seguí-la discretamente sempre admirando suas pernas quando ela não estava com um blazer. Tornou-se uma rotina. Um dia perdi o medo e lhe dirigi a palavra, mas ela simplesmente disse que não falava com desconhecidos, o que me deixou um tanto chateado. Ligava para ela todos os dias, achava lindo o tom de sua voz, que me atendia educadamente. Isso durou alguns meses, apenas por telefone, pessoalmente nunca mais tive coragem de falar com ela, até que certo dia ela não atendeu a ligação e sim outra moça que me informou que Sandra tinha deixado a firma por ter aceito uma proposta melhor de salário. Nunca mais a vi no ônibus.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 04/02/2022
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