ROSI E INÁCIO - UMA HISTÓRIA TRISTE DE AMOR

   A velha casa abandonada era palco de olhares desconfiados, muito maltratada e caindo aos pedaços demonstrava poucas possibilidades de um dia ser ocupada. A placa com os dizeres "vende-se" ainda estava lá dependurada na fachada e quase caindo, como que insistindo para que alguém se prontificasse a comprá-la. Fazia mais de três décadas a situação em que se encontrava, era enorme e possuía um jardim cheio de flores, apesar do mato crescido. Portões e grades estavam enferrujados e nas paredes viam-se fissuras devido ao tempo. Teias de aranhas davam a impressão de que ninguém por ali passara, nenhum conserto foi feito e os anos insistiam em deteriorá-la ainda mais. O curioso é que um alguém para ali se dirigia quase diariamente e ficava a observá-la mergulhado num mundo de lembranças e tristezas. Era Inácio, um homem simples, cabelos brancos e barba por fazer, também brancas com sinais de um amarelão por conta da fumaça dos cigarros que fumava constantemente. Sentado em um tronco de árvore ali ficava por horas como a querer entender o porquê desse abandono. Algumas poucas lágrimas escorregavam de seus olhos marejados, já estava acostumado com essa visão melancólica. Ali, naquela casa abandonada pelos proprietários, existia uma história que só ele conhecia.

   Vamos voltar no tempo, há exatamente trinta e dois anos, esqueçamos aquela casa que o tempo se encarregou de praticamente destruí-la. Essa mesma casa, tempos atrás, era linda, seu estilo colonial mostrava com exuberância uma pequena família feliz que nela vivia. Seu Apolônio e dona Margarida eram os donos, os filhos Paulo e Rosidete eram pequenos e adoravam brincar no jardim repleto de belas flores que eram cuidadas pelo jardineiro Florêncio. Duas empregadas faziam parte como serviçais e uma delas era babá de Rosidete, que tinha apenas doze anos, um ano mais nova que o irmão. Gostavam de passear de charrete pelas redondezas conduzidos pelo próprio pai.

   O tempo passou com essa rotina alegre, Rosi, como era carinhosamente conhecida a moça, já estava então com dezessete anos e sua beleza e simpatia despertavam a atenção dos rapazes da região. Era ainda a época em que os pais escolhiam os maridos para suas filhas e seu Apolônio indicou Arthur, filho de um grande proprietário de terras que era compadre e vizinho dele, para desposar Rosi. Acontece que a moça não simpatizava com o rapaz e já estava de olho em Inácio, um rapaz simples que morava nas redondezas. Começou então a "via crucis" de Rosi, que se recusava a aceitar o moço, que se mostrou bem interessado nela. Várias vezes ela saía às escondidas para se encontrar com Inácio, até que um dia seu pai descobriu e a proibiu de sair de casa. Em seguida mandou que um capanga abordasse o rapaz que a cortejava e lhe desse uma surra, o que acabou acontecendo. Inácio passou vários dias acamado e sem condições de ver Rosi.

   Quando Rosi completou dezenove anos seu pai decidiu pelo casamento, ela gostando ou não. Os preparativos tiveram início e o vestido da noiva foi confeccionado. A data foi marcada e o lindo casarão foi enfeitado para a festa que aconteceria ao lado do prédio assim que os noivos chegassem da igreja. Muitos convidados encheram o local onde a badalada festa ocorreria. Do lado de fora Inácio a tudo assistia sentado em uma pedra, onde ficou observando discretamente. Lágrimas desciam dos seus olhos, estava perdendo para outro a moça que amava. Rosi, em seu quarto, foi obrigada a vestir o belo vestido branco, mas ela foi decisiva, disse ao pai que não casaria com Arthur e que preferia a morte do que esse matrimônio forçado. Num descuido da empregada ela trancou a porta do quarto. Ninguém entrava nele. A porta foi então arrombada e ela foi forçada a vestir o vestido, saindo a força para a charrete que a levaria para a igreja onde o noivo a esperava. Inácio a tudo assistia e chorava convulsivamente. Durante o percurso ela aproveitou um descuido e retirou uma garrucha da cintura do pai e, para espanto de todos, atirou no próprio peito. Não houve casamento e os pais ficaram bastante transtornados.

   Alguns dias se passaram com a tristeza reinando naquele lar. Decepcionados com a situação seu Apolônio e dona Margarida, juntos com o filho Paulo, se mudaram para a Europa após dispensarem os empregados. Aquela enorme casa ficou fechada, Inácio lamentou o ocorrido e passou a ficar na frente dela sem acreditar muito no que aconteceu, sua mente ficou confusa e ele achava que a qualquer momento sua amada Rosi ali apareceria para falar com ele. Durante muitos anos ele alimentou a esperança de ver a amada.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 14/02/2022
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