LINCOLN

Mastigava seu “baguncinha” com certa tranqüilidade, enquanto encostava-se na cadeira enferrujada de metal. Lincoln Palmas era assassino, isso era fato. Viera de uma família assim, seu pai lhe pagou boas escolas, e uma vida farta graças a morte alheia, e talvez houvesse sido justamente isso que levara Lincoln a essa escolha para levar sua vida. Poderia ser professor, era um bom aluno na universidade. Mas não, suas mão pareceram desejar algo mais que um lápis. “Cada homem tem seu destino” era o que dizia seu pai, e talvez o dele fosse seguir os passos de seu patriarca, e quem sabe, seus filhos fariam o mesmo.

A noite caia lentamente, enquanto o jovem consumia o pequeno lanche e o refrigerante em lata. Logo que notara que a céu estava completamente negro, e homens se aglomeravam na pequena lanchonete para beberem sua cerveja. Foi nesse momento que decidira levantar-se e tomar seu rumo. Estava quieto, concentrado demais, sentia a sensações inconscientes do corpo quando a adrenalina começa a ser despejada em ondas, a cabeça latejava, mas ainda assim notava que seus sentidos pareciam mais aguçados como nunca. Cada sussurro das arvores, o cheiro forte de um bota-fora usado como lixeira, a noite que apesar da pouco iluminação das ruas, lhe parecia mais claro que o dia. Julgava ser o medo, que imaginava ser uma vantagem quando afrontado.

Não demorou para encontrar a casa que procurava, de paredes brancas de cal, a porta simples de madeira era presa uma grossa e enferrujada corrente, o silencio era tão absoluto. Ninguém estaria ali. Retirou a mochila das costas. A abriu e dela retirou algumas apostilas da faculdade, e não demorou para encontrar a pistola 45 que pertencera um dia ao pai. Segurou-a firmemente, em seguida jogou novamente a mochila nas costas. Respirou fundo, as mãos, como sempre, tremiam, pediu a Deus que guardasse seu caminho, e pediu aos demônios também, e aos santos, as formas benéficas desse mundo, e as negras e destrutivas também. Passou a caminhar em volta da casa, querendo achar a porta dos fundos, já que muros eram uma coisa que não passava de um plano, já que vira um amontoado de tijolos velhos e esverdeados que Lincoln usara para guardar sua mochila. Ouvira os movimentos de um carro chegando, correu para os fundos. Em seu intimo, não sentia preparado, mas teria de ser assim, essa profissão não esperava que se encontrasse o momento certo para tudo.

Pessoas riam ao sair do carro, falavam sobre coisas triviais, como mulheres, bebedeiras, pareciam felizes, talvez pelo álcool, ou simplesmente porque seria o ultimo dia de suas vias, e inconscientemente o aproveitavam. Lincoln ficara ali, de frente para a porta dos fundos, apenas esperando que a abrissem. Gotículas de suor escorriam pela testa do assassino, que empunhava sua pistola com firmeza, mas toda aquela sensação parecia insuportável. A porta se abriu, era um homem, alto, magro e de cabelos loiros. Nem mesmo pode ver sua reação, a bala atravessou sua cabeça segundos após ouvir-se o ranger típicos de portas velhas.

- Gilberto!!

- Que houve na fora!?

Lincoln ouvi os dois gritos, viriam facilmente, sentiu-se maldito ao usufruir da sensibilidade dos amigos para traze-los a seu algoz. Irônico. Mais dois tiros, ainda estavam dentro da casa quando foram disparados, Lincoln apenas avistara suas silhuetas, mas havia sido suficiente para ser mortal. Podia ouvir também a movimentação agitada dos vizinhos. Ele correu, pegou rapidamente a mochila e enfiou a arma, não podia se desfazer de um bem tão precioso. E assim correu alguns quarteirões, não desejava ser visto, não por temer a policia, talvez fosse com medo de perder aquela vida simples de faculdade, os colegas próximos, a bebedeiras, sua paz seria apenas uma lembrança. Mas conseguira fugir, e agora teria um bom dinheiro para dar a irmã pagar o aluguel e fazer as compras do mês.

Zé Rizzotto
Enviado por Zé Rizzotto em 24/11/2007
Reeditado em 03/02/2008
Código do texto: T750760