À LUZ DA LUA

 

Era sexta, e Noeli saiu do trabalho cheia de planos: chegar a casa, tomar um bom banho, fazer umas pipocas no micro-ondas e ver “Dois filhos de Francisco”. Por volta das seis, ela saltou no ponto perto de casa. De longe, já notou um movimento fora do normal no quarteirão. A vizinhança, que nunca saía fora das casas, estava toda reunida. Foi logo indagar:

— Uai, o que houve por aqui?

— Um susto! — adiantou dona Natalina — estourou o transformador! Que estrondo, menina!

— Xi! E a luz?

— Sem previsão! — dona Germina foi quase cruel — dependendo dos estragos, volta só de madrugada.

A moça mal podia conter a frustração. Sem luz, sem banho, sem pipoca, sem filme, sem nada! Foi quando Aníbal, marido da Mariângela, veio com a ideia:

— Quem sabe a gente faz uma fogueira aqui na rua, hein? Vem aí o dia de São João, a gente já adianta!

A proposta era boa, ninguém resistiu. Reuniram os quitutes que tinham nas casas e tudo que dava pra esquentar o peito na noite fria de junho. Cantaram o que sabiam, tocaram  violão, dançaram como puderam, pura festa à luz da lua!

À meia-noite, isolada por umas cordas improvisadas, a fogueira ardia bem no meio da rua. Aquele foi o melhor São João que o povo do quarteirão guardaria na memória. Um dia sem luz elétrica, mas de calor humano totalmente aceso.

 

 

 

Tema da Semana: Um dia sem luz (conto)