O Homem do Banheiro

Era uma vez um banheiro; composto de um aparelho sanitário, uma pia onde, logo acima, pregado na parede, ficava um espelho desses que se guardam escovas de dente, shampoos e cremes pros cabelos, fio dental e outros produtos para a limpeza pessoal; sua arquitetura era modesta, nada de luxuoso, o que mostrava ser compartimento de uma casa do subúrbio. Porém, tinha algo incomum naquele banheiro.

O que fazia daquele banheiro, único, era o fato de ser habitato em tempo integral – isso mesmo, integral! – por um homem.

Pouco ou nada se sabia desse, no mínimo, estranho homem; Nome, família, escolaridade, amores, filhos... Tudo era um grande ponto de interrogação. O que faria uma pessoa em pleno vigor jovial, resumir sua passagem pela Terra, á clausura em um simples banheiro, desligado de tudo e de todos?.

Tudo o que se sabia sobre ele era que adorava ler. Estava sempre com um livro na mão, e, lia-os como se não precisasse de outra coisa pra viver. O que ele sabia sobre o mundo depois da porta do banheiro, tinha lido nos livros; Por vezes ficava confuso, pois lia muitos escritores e, cada um tinha sua maneira de ver a realidade mundana... Não importa, não queria conhecê-la pessoalmente!

Tinha poucos amigos, como era de se esperar de alguém que passa os dias em um banheiro, porém os que tinha, quase conseguiam entender-lhe a alma e á sua clausura. A loura do banheiro o visitava com freqüência; Não por amizade sincera, mas talvez pela necessidade de queixar-se da sua triste vida, de nunca ter conseguido um beijo de ninguém, pois, temiam serem mortos por tal atitude. Porém, Sr. Padim, o Mago do Sono das Donzelas, era mais sensato; Quando tinha uma folga ia ter com o “amigo do banheiro”, longas conversas filosóficas e literárias.

Um dia, tal homem desapareceu como se, nunca tivesse existido. As pessoas se dividem em opinião sobre ele: Alguns dizem que foi um tolo e covarde por isolar-se do mundo e não ter visto, nem sentido as alegrias que no mundo há. Outros, entretanto, dizem que foi uma pena ele ter sumido no nada, pois uma mente como aquela desvendaria tantos segredos humanos. Porém, sabe o que o homem do banheiro acha? Pergunte a ele; A mente é uma casa, e, na sua casa há banheiros?