AH! COMO DÓI A SOLIDÃO!

   Deitado numa rede na área superior de minha casa, onde existe uma cobertura com telhas Brasilit, me ponho a olhar o céu, a contemplá-lo com prazer, vendo as nuvens passarem suavemente e sentindo o vento me abraçar. Começo a imaginar um mundo diferente, a compreender como a vida é importante para ser vivida da melhor maneira possível. Meu cérebro recebe informações, lembranças do passado que muito me satisfizeram e hoje as tenho como uma simples recordação de momentos que vivenciei, uns bons, outros nem tanto, mas que mesmo assim os guardo com carinho sem nenhuma mágoa no coração. Me serviram de lição os fatos que me deixaram triste, errei em alguns casos, confesso, mas quem não erra neste mundo de Jesus? Porém os bons momentos foram extasiantes, a vida me brindou com alegrias, poucas, mas que representaram muito para a minha vivência. Sofri, passei por maus bocados, mas ergui a cabeça e mudei minha forma de viver. O futuro sorriu para mim e eu o abracei com carinho. Mesmo só tenho esperança de que Deus vai continuar olhando para mim.

    Eu era ainda muito jovem quando conheci Etelvina, uma moça magrinha, de olhar triste, mas que tinha uma sensibilidade muito grande para entender o que era a vida. Era bonita, tinha os cabelos grandes, bem pretos, um encanto de garota. Nos apaixonamos e começamos a namorar, apesar dos seus pais não serem favoráveis ao nosso relacionamento. Mas o namoro progrediu e eles acabaram aceitando. Aos 18 anos comecei a trabalhar numa repartição pública, foi uma alegria enorme para mim e para Etelvina, eu gostava muito dos conselhos que ela me dava, no entanto a minha vida particular sofreu um abalo quando eu tinha quase dois anos de emprego, meu pais se separaram e com poucos meses minha mãe veio a falecer. Meu pai eu não sabia o paradeiro dele, talvez nem tenha sabido que ficara viúvo e nunca mais o vi. Passei a morar só junto com mais dois irmãos menores, mas por conta da idade deles tiveram que deixar a casa e viverem com uma tia nossa que morava em outro estado. Eu fiquei porque trabalhava e não podia deixar o emprego, por sinal muito bom e com um ótimo salário. Minha vida mudou, passei a beber em demasia e a gostar de festas, o que, com o passar do tempo desagradou Etelvina, que rompeu o namoro, atendendo também orientação de seus pais. De início senti um pouco, mas a convivência com amigos em farras me fez esquecê-la, não faltaram outras garotas para preencherem meu vazio, no entanto não queria compromisso sério com nenhuma, minha "namorada" era a farra, a noite, um copo de whisky ou cerveja. Assim fui me acostumando e sem perceber que os anos iam passando. Chegava em casa sempre altas horas da madrugada, geralmente embriagado. Eu mesmo preparava minhas refeições, muitas vezes comia pela rua mesmo.

   Certa noite eu cheguei em casa tão embriagado que deixei as portas abertas e me deitei sem me preocupar com nada, o que chamou a atenção de alguns vizinhos. Pela manhã eles me ajudaram e me fizeram tomar um banho e tirar as roupas sujas de vômito. Nesse dia cheguei atrasado no trabalho e fui chamado pelo meu chefe para uma conversa. Daí então comecei a ter mais cuidado com a bebida tendo mais controle nas farras. Tive várias companheiras mas nunca a intenção de ter uma vida regular, um relacionamento sério. Muitas noites dormi pensando na minha vida, no que poderia fazer para mudar o meu jeito de viver, mas o vício não me deixava em paz e eu sempre estava bebericando pelos bares da cidade. E foi numa dessas noites que encontrei casualmente aquela que foi minha primeira namorada, Etelvina, acompanhada de seu marido. Ela me tratou muito bem e até me deu conselhos, coisa que sempre fazia no tempo que nos relacionávamos. Seu marido foi gente fina, também me orientou a mudar de vida, a deixar essa vida e encontrar alguém para ser minha companhia. Nesse momento meu coração bateu forte, acelerou. Olhei para aquele rosto agora mudado, mais sério e imaginei o que seria hoje se tivesse ouvido os seus antigos conselhos. Talvez Etelvina fosse atualmente a minha esposa, quem sabe. Isso me fez pensar mais em mim e no meu futuro, afinal eu já estava com mais de 45 anos, quase chegando aos 46, tinha que dar um rumo na minha vida.

   E agora aqui, deitado nessa rede, continuo a olhar o céu, a ver as nuvens passando bem devagar, sentindo o vento me acariciar e esperando que algo aconteça. Não vou dizer que deixei de beber, mas diminuí gradativamente a quantidade ingerida. O tempo passou desde o reencontro com Etelvina, fiz o possível para atender o seu pedido, mas venho sofrendo essa dor que não cessa, a dor da solidão. Exatamente cinco anos se passaram, estou agora com 51 anos e só quem passa por isso é que sabe a dor que sente vendo o tempo passar e esquecer que a vida tem que ser vivida com uma companhia agradável e permanente, o que nunca consegui fazer. Mas aqui estou disposto a tudo, a esperar um novo futuro e a entender definitivamente que a vida é para ser vivida a dois e com prazer.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 13/10/2022
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