A Janela e os cacos de vidro...  BVIW

 

Enquanto a sutil chuva de primavera envolve o varal, ausente de roupas, Eliza observa a janela com parte do vidro trincado a desenhar em frágeis linhas, peças de um quebra - cabeças.

 

Reflexiva ela lembra o dia em que, ainda criança cortou o dedo ao tocar num pequeno espelho quebrado; as gotas de sangue a assustaram, mas não a impediram de tocar outros espelhos e de algumas vezes se ferir... As lembranças parecem recortes de imagens alinhavadas com um silente e dourado fio de emoção. Há dias nos quais a impulsividade e a ‘sede de viver’ esmaece o medo de navegar rumo ao desconhecido.

 

Quando os sonhos caminham de mãos dadas com os desejos e os cacos de vidro flutuam próximos à janela, Eliza, inebriada, senti um vento, um beijo de Magritte... entre reticências de orvalho alça voo...

 

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. Imagem: Google

.Tela de René Magritte "A Chave dos Campos" (1936).