___________ O Baile Azul

 

Uma olhadela na caixinha do correio, e Dafne deu com o envelope azul. O que seria? Sem remetente, mas com destinatário: era para ela. Abriu, curiosa. O texto em letra cursiva, cheia de arabescos prateados, era breve: um convite para o Baile Azul, na próxima sexta, no Salão Azul — Rua do Conde, 93, no Jardim Celeste. Tudo azul? Se era azul só podia ser bom, então decidiu: iria dançar!

 

Na sexta, Dafne se aprontou. Pôs o vestido azul, fazia calor, e a peça era leve. Chamou um carro, deu a direção. À altura do 53, o GPS engasgou, fim de linha. A moça estranhou. Embora o Jardim Celeste não lhe fosse tão familiar, era o bairro mais antigo da cidade, com ruas largas e extensas. Em vez de voltar, Dafne saltou. O motorista deu ré, sumiu em segundos. Ela deu voltas a pé, avistou uma praça, onde alguns homens jogavam cartas numa mesa de concreto. Indagou do Salão Azul.  O mais idoso deles olhou-a espantado:

 

— Salão Azul!? Foi-se com o incêndio na noite do Baile Azul, em 1949. Ficava ali naquelas ruinas — ele apontou um monte enegrecido de escombros cobertos de hera —, eu era só um rapazinho...

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Dafne estremeceu: em 1949, sequer sonhava nascer. De repente, a noite era assustadora e nada mais lhe parecia  assim tão azul...

 

 

Tema da Semana: O convite (conto)