APRENDIZ DO BARULHO

 

O sábio ensinava aos discípulos enquanto algumas crianças, vizinhas do mosteiro, faziam barulho com suas brincadeiras. Incomodado com os gritos infantis e com os seus brinquedinhos eletrônicos, um dos asseclas reclamou:

 

- Como é possível os pais desses infantes não ensinarem a boa educação?

 

Aproveitando a exaltação do jovem aprendiz, o sábio iniciou uma história:

 

- Havia um homem e o filhotinho de pastor alemão. Como todo cãozinho, o bicho era curioso e alerta, vivia latindo. O seu tutor facilmente se incomodava e se irritava, e com gritos de fúria mandava o bicho calar a boca. Essa situação aconteceu por muitos dias, até que o filhotinho foi minguando, parando de comer, silenciando, e foi a óbito.

 

O mestre abaixou a cabeça, respirou bem devagar, e prosseguiu:

 

- Não diferente ocorre entre as pessoas. Quantos pais, cônjuges, outros parentes e amigos impedem que seus filhos, companheiros ou próximos se expressem com liberdade, fazendo-os definharem em frustrações, tristezas e desânimos. Nunca elogiam, somente criticam. Como alguém consegue desenvolver suas vocações se não pode exercitar os dons?

 

Sentando-se ao lado do pupilo, falou com suavidade:

 

- Sabe, meu rapaz, o barulho perturba somente aquele que não tem paz. Por isso qualquer som externo incomoda, porque dentro há um inferno criado pela própria pessoa. Desta forma a criatura se transforma em egoísta, em opressor, em destruir de futuros talentos.

 

Aproximando-se do muro da casa vizinha, o sábio apoiou-se sobre ele, e olhando para o aprendiz, finalizou:

 

- Sorte das crianças terem uma família paciente, do contrário teriam destino do cachorrinho. Talvez não tivessem morte física, mas teriam morte sentimental bloqueadora da alegria e do sucesso. Nessa casa, se as crianças têm liberdade de se expressarem, então terão voz no mundo. Serão ouvidas. Saberão se defender. E isto é muito saudável para elas!

 

O jovem discípulo, meio recatado, colocou as duas mãos sobre a cabeça. Apesar da vergonha, estava agradecido ao sábio mestre pela grande lição recebida.