A HORA DO ADEUS

 

   Kléber não tinha outra alternativa senão sofrer calado, não chegou a chorar, se conteve, mas teve muita vontade. Seus olhos estavam vermelhos, o que demonstrava que lágrimas estavam ali prontas para serem vertidas, mas ele segurou-as. Estava triste, sentia-se humilhado pelo próprio amigo com quem compartilhava momentos de intensa alegria, nunca esperou que Saulo fizesse o que fez. Mas deu-se por vencido e tratou de cuidar da sua vida, era ainda um rapaz novo, com seus 23 anos e nada impediria de tentar encontrar um novo amor.

   Na noite anterior, um sábado, Kléber e Saulo estavam como sempre prontos para uma nova "aventura noturna", uma busca por festinhas ou "assustados" nas redondezas do bairro, geralmente encontravam algum divertimento desse tipo, o que era comum naquela época, nos idos anos setenta. Eram amigos de estarem sempre juntos, inseparavelmente. Encontraram com Lana, uma velha amiga desses momentos festivos, ela se dirigia para a casa de uma amiga onde haveria uma comemoração de aniversário, promoveriam então um "assustado". Para quem não sabe esse termo "assustado" era muito usado por jovens que, ávidos por uma festinha a base de bebidas, petiscos e dança, promoviam sem o conhecimento do interessado, geralmente quando aniversariavam, então os amigos providenciavam tudo e na hora certa davam início a festa surpresa. Lana então os convidou para irem juntos, no que foi aceito por Kléber e Saulo de imediato. Lá chegando foram apresentados e já se sentiam donos da festa. Lana apresentou primeiro para Kléber uma sua amiga de infância e que viera morar no bairro. Selma, era seu nome, que logo causou um "abalo" no coração dele, que achou-a linda e de um olhar cativante, isso foi o que ele percebeu de início. Ela segurou suas mãos com firmeza, o que fez Kléber sentir-se bem a vontade e com "intenções imprevisíveis". Depois Selma foi apresentada a outros rapazes, mas não tirou os olhos dele. Kléber viu nessa garota uma possibilidade de um namoro, o que lhe deixou entusiasmado. A festa transcorreu em clima animado, porém Kléber notou que seu amigo Saulo se aproximava muito de Selma, a garota que inicialmente estava dando "trela" para ele, chegaram até a dançarem um pouco e ele sentiu o seu perfume bem de perto do seu pescoço. Teve vontade de beijar aquele pescoço lindo mas se conteve. No final do "assustado" Kléber se despediu de Selma e rolou até um beijinho de leve e ele achou que devaria ir a frente um namoro sério.

Kléber esperou alguns dias para ver a posição de Selma sobre o possível emplacamento desse namoro que ele tanto desejava, mas se decepcionou quando soube a verdade, seu amigo Saulo simplesmente se atravessou na frente e tomou o seu lugar, ganhou a confiança de Selma e com sua lábia conseguiu conquistá-la. Os dois já estavam de namoro firme. Triste, Kléber aceitou a derrota lamentando ter perdido essa grande oportunidade. Um fagulha de esperança pareceu lhe dar uma oportunidade quando ela mandou um recado para ele através de uma amiga para que fosse até a casa dela. Ele se produziu todo e correu para a casa de Selma. Em lá chegando ela o recebeu muito bem e com um sorriso nos lábios.Quando tentou beijá-la ela afastou seu rosto suavemente e comunicou que estava gostando de Saulo e que ele já era o seu namorado, pedindo para que compreendesse a sua decisão. Aparentando uma calma fora do comum Kléber aceitou e retirou-se imediatamente para que ela não percebesse o seu desencanto. Em casa foi para seu quarto curtir uma " fossa" pela qual jamais havia passado.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 08/01/2023
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