O BOSQUE DA MINA (BVIW)

Os anzóis, a latinha de iscas, o farnel de Vó Duviquinha: café na garrafa de vidro com rolha de sabugo, farofa de carne, nacos de queijo e lasquinhas de rapadura — tudo ajeitado no embornal de algodão cru. No curral, os cavalos arreados. De madrugadinha, Vô Tide tinha ido buscá-los no pasto: era dia de ir ao Bosque da Mina, lugar predileto dos netos, Doca e Belinha, ali na fazenda Piedade. E Vô Tide era quem inventava toda aquela aventura.

O sol tirava faíscas no cascalho branco dos caminhos. O cavalo Brinquinho, de pelo branco e crinas longas, abria caminho sob as rédeas de Vô Tide. Doca e Belinha iam atrás conduzindo a Estrela, eguinha dócil, de olhos mansos e pelo acastanhado. Margeando as veredas do córrego, os animais trotavam morro acima. Lá no alto, as árvores se fechavam em densas copas, guardando a nascente do Mimoso, que brotava da terra em frios e cristalinos filetes.

O bosque era um santuário de belezas naturais: o açude azulado entre pedreiras, sombras, flores aromáticas e brisas frescas. Vô Tide pedia silêncio, jogava o anzol. Os netos o imitavam, tirando das águas piabas prateadas e graúdas. Depois da merenda, a gangorra nos grossos cipós que pendiam do arvoredo, e as boas histórias contadas sem pressa. Vô Tide jurava que tinha cúmplices ali: bichos da mata que lhe contavam muitos segredos — mas só quando ele vinha sozinho. “E bicho fala, Vô?” — Belinha queria saber, o espanto brilhando nos olhinhos vivazes. — “Fala, sim, minha fia! Mas é só aqui, nesse bosque encantado, viu?” — o avô afirmava entre um riso maroto e baforadas do pito de palha.

Contam que aquele paraíso escondido na mata viu muitas alegrias, até o dia em que Brinquinho apareceu sozinho zanzando pelo curral. Vó Duviquinha estranhou: “Uai!” É que Vô Tide também tinha se encantado no Bosque da Mina.

Tema da semana: O Bosque Encantado (conto)