CONVITE DE CASAMENTO (BVIW)

Vanda seguia a pé pelo centro da cidade. Ia ao Edifício Roma levar seu convite de casamento aos padrinhos de batismo. Enquanto andava, pensava no quanto a cidade tinha mudado. Quando foi embora para Belo Horizonte, aos dezoito anos, o lugar era praticamente um vilarejo. Pensou também em como tinha sido traumática a sua saída daquele lugar. Lembrou-se do pai obrigando-a a fazer a mala às pressas, decretando aos gritos que ela nunca mais voltaria para casa — castigo que ela mesma tinha pedido ao encontrar-se às escondidas com Armandinho, rapaz sem cobres, sem tradição, sem futuro nenhum.

O tempo passou, a vida deu suas viradas. Um infarto fulminante levou o pai, as dívidas se acumularam, os negócios declinaram, a família foi à falência. Ela agora tinha loja modesta, montada num bairro periférico da capital, e estava de casamento marcado, para o mês seguinte, com um rapaz da vizinhança. Fazia muito, ela soubera, seu eterno amor tinha ido morar no Mato Grosso, onde havia se casado e era pai de dois filhos. A vida tinha seguido. Para os dois.

A rua formigava, o calor era abrasador. Em frente ao antigo Cine Coliseu, ela, do nada, avistou Armandinho. Seriam os efeitos do sol forte? Seria miragem? Não era. Porque ele também a avistou e correu ao seu encontro. Naquele abraço de quinze anos de separação, nem uma palavra foi dita. Enquanto um beijo louco de saudade acordava duas bocas sôfregas de amor, um solitário, e inútil, convite de casamento escorregava para o chão.

Tema da Semana: Seria Miragem? (conto)