A revolução das flores

Essa mania de se despedir, sem falar adeus ou colocar as palavras certas nos ouvidos errados de quem não quer ouvir palavras doces e amigas, na frente dos olhos de quem não quer ver.

Amava os cegos, os surdos e os portadores de hanseníase. Mas os mudos não vinham ao seu encontro, então procurava novos amigos, a verdade em alguém, um ator que não abandonasse a cena, e que pudesse viajar pelas turnês de seu musical.

Sentia-se uma colagem, tal qual um frasco de Super Bonder, algo que não dá para se remover tão fácil, composta por cores em pantone com direitos reservados, em algum código quebrado pela pirataria.

Quase estéril como uma flor exótica difícil de se polinizar... Quase impossível. Os insetos ficavam envenenados. Vivia em mutualismo com as árvores, mas já não existia em abundância. Algumas parecidas, mas nada iguais: ervas daninhas, clones, xérox, falsas...

Não era má nem boa, uma espécie em extinção, ou simplesmente sempre foi rara, por sua fragilidade a espécie não encontrou muitas chances de evolução... Mas ela sobreviveu a lugares inóspitos, obstáculos e até mesmo contra a sua autodefesa. Defesa, aquela que os bebês não possuem, as crianças adquirem e os homens compram. E alguns dizem que Deus os protegem.

Alguns não acreditam outros afirmam sua existência. Relacionava-se com um sentimento que gosto de saber que existe, fé. Algo que fez o último surdo entrar no mundo dos sonhos, porém ficou cego, por que não queria sonhar de olhos abertos e sua pele não sentia nada além daquilo que queria dizer... Não parava de falar um minuto.

Agia como um esquizofrênico sem conhecer que podia ser curado pelo antídoto da tal flor de terras inóspitas. Fantasia? Achou que estava enlouquecendo e afirmou que remédio era invenção da contra cultura e medicina alternativa coisa do demônio. Ambos usavam a flor.

Usou a flor como chave para seus problemas e fingiu que poderia viver sem ela... O princípio químico ativo da mesma foi descoberto. Hoje ela não está mais extinta e vive em estufas com outras flores e curando muitos.

O homem doente se indignou ao ver o remédio e a flor em um outdoor em frente à janela de casa, saíram, ele e sua loucura... Viu através dos vidros de seu carro, o mesmo outdoor a uma distancia considerável.

Ele passou um período de reclusão em um manicômio e pode ser visto perambulando pelas ruas falando sem parar sobre remédios sem utilidade alguma e de suas crenças infundadas, mentindo, brigando e sendo ignorado pelos transeuntes, atordoado pelo silêncio da revolução das flores.