Teclas.

Ela estava sentada na cadeira rente à mesa, com os dedos longos e inquietos sobre uma folha de papel imaculada. Tão buliçosos achavam-se, que pareciam dedilhar as teclas de um piano, mas apenas as brancas estavam presentes, uma vez que o papel era todo branco. No entanto, precisava das teclas pretas para que a 'sustenessem', em busca de um tom que não se sabia de onde viria, com o intuito de formar-se uma música, uma que se encaixasse com ela. Mas, não! A sua vibração desejante não era oriunda de uma melodia a ser criada, porque o que estava em sua frente era um papel, afinal, em virtude da necessidade ou da vontade de escrever. Ela agarrava-se ao lápis preto como sua única tecla de impulso, de timbre. Buscava, naquele passado imperfeito, as outras teclas negras nas lembranças que ressurgiam fragmentadas ou no estímulo a um possível estado de espírito que pudesse satisfazê-la.

Mariizans
Enviado por Mariizans em 02/12/2023
Reeditado em 02/12/2023
Código do texto: T7945575
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