VERMES

- O que seria da raça humana se não fosse a moral?

- Não sei.

- Pois eu bem sei meu amigo. As pessoas seriam descontroladas, loucas como cachorros. Já notou os cachorros? Cheiram seus traseiros, fodem uns na frente dos outros.O homem faria isso se não fosse a moral.

- ...

- O que foi? Porque continua quieto?

- Porque você é um idiota sem qualquer noção sobre a vida, ou mesmo sobre os seres humanos. A moral existe para nos manter em ordem, para nos controlar.

- Há!... que papinho de universitário Lincoln. “Nos controlar”? não entendo porque perdem tanto tempo tentando dizer que somos controlados pelo outros.

- É impossível fugir disso, esta mesclado ao que somos. É como quando dizem...”Vá com Deus”. Até mesmo um ateu deve falar isso as vezes....

- Hm... Sei... E claro, para confrontar esse terrível sistema, vocês, jovens e de mente clara e viva, fazem o que? Ah sim! Você se entopem de maconha, cocaína e outras drogas que nem mesmo sei dizer o nome... e para que?

- Para sermos notados... para esquecer que não temos nada a lutar, ao contrario de vocês, que tanto lutaram na juventude para democracia ordinária que temos hoje. Nós não temos nada...

- Nada?... quanta tolice!

- Ah sim, temos algo. Temos a falta de esperança no futuro, exatamente como vocês... somos todos escravos desse mundo novo, onde não há vilões. Escravos da grana, bufunfa...

- Tolice Linconl...

- Diz isso porque tem uma vida estável....

Chovia em Cuiabá. Lincoln podia, da imensa janela do apartamento observar o shopping goiabeiras. As pessoas, como pequenos pontos coloridos e ambulantes lá embaixo. Carros corriam veloz como sangue na artéria de asfalto.

O homem, sentado sobre uma grande e confortável poltrona de couro levantou-se. O terno desarrumado no corpo, a gravata em volta do copo de uísque.

- quer mais uísque?

- Que seja... encha meu copo.

O homem riu, e o encheu com tranqüilidade. Talvez pensasse na audácia daquele moleque que era Linconl, com suas roupas surradas e seu All Star sujo. O “moleque” sorriu para ele, enquanto ascendia um cigarro.

- um cigarro por copo. Já o entendi Linconl Palmas...

- Porque falar sobre moral com um assassino.

- Porque?

Ele riu mais uma vez, mas logo a risada se tornou gargalhada, e jogou-se sobre a poltrona, e com a delicadeza que apenas os bêbados podem ter, ajeito o terno escuro, ainda que todo amarrotado.

- porque?... estamos no topo da cadeia, não precisamos da moral.

- Hm... somos da mesma laia...

Ele sorriu levemente ao bêbado. O olhou novamente, e pensou consigo mesmo.

“A moral existe para que vermes riam da sociedade.”

Zé Rizzotto
Enviado por Zé Rizzotto em 08/01/2008
Reeditado em 03/02/2008
Código do texto: T807842