A TRISTE NOTA DE CADERNO

“O céu chorou para mim hoje. Ela chorou muito, e aquela água levou meu coração.

Ela me disse que não me amava. Mas eu a amo, talvez não para sempre, mas a amo.

Ela não sorria mais para mim. Ela não me queria mais. Eu fui embora, agora estou aqui. Andando de um lado a outro a procura dela, a procura de algo. Eu sou um patético, um garoto, um moleque, mas não um homem. Eu preciso ser homem, eu tenho de ser homem.” As palavras haviam se acabado, o papel ainda era longo, mas a mão não conseguia segurar a caneta. Lucas deixou uma lagrima cair sobre o papel. Se encostou na cadeira e olhou a paisagem, o céu escuro e seco lá fora, depois a tv ligada. Não iria desliga-la, se o fizesse seria tomado pela solidão doida que o fazia lembrar dos tempos de criança. Lucas chorou. Pegou sua garrafa de pinga, e bebera um trago. Ascendera um cigarro. Mas as lagrimas haviam cessado, a anos e anos que não conseguia chorar, sentia o nó na garganta. Se lembrou da sua vida sombria do passado, e que queria voltar a ela, queria ser grande e intocável apenas para que ela o temesse, mas ela não o temeria nunca. Sua alma era livre. Mas não a de Lucas, ele tinha sua alma presa num calabouço terrível, num calabouço que nem mesmo ele sabe quando se trancafiou um dia.

“...ela pegou o maço de cigarros... ela pegou as coisas dela...”. continuou Lucas a escrever. Para quem? Ele não sabia. Mas por um segundo sorriu. Voltou os olhos para aquela cidade escura e seca lá fora. E pensou em quem seria sua essência, e se ela sofria como ele.

“Eu não serei mais um moleque.... Eu serei um homem.” Escreveu por fim.

Zé Rizzotto
Enviado por Zé Rizzotto em 14/01/2008
Reeditado em 03/02/2008
Código do texto: T816181