O GUERREIRO SEM ALMA

O coração estava palpitando. Era minha primeira competição. Eu sentia algo estranho em meu estômago. Talvez fosse a sensação do medo. Ajeite meu kimono, meu pai me olhava em meio ao publico. Minha namorada também, havia treinado tanto para aquele dia. Vi meu sensei, estava sério. Bateu corpo com as mãos em meus ombros e disse “Vá com Deus” ou algo do tipo, não conseguia escuta-lo bem. Ao longe, perdido entre as inúmeras cabeças gritantes do publico havia aquele homem, um japonês que vendia pastel numa feira no CPA, ele me olhou, ele não sorriu como antes, apenas maneou a cabeça negativamente. Senti receio confesso, queria lhe perguntar o que havia, se não era tão bom.

Eu entrei na arena, o tatame era macio, me senti desconfortável. Meu oponente me olhava de maneira agressiva. Eu achei estranho, não tinha raiva dele, apenas queria saber qual seria o melhor, então sorri, como havia visto alguns anos atrás em alguns desenhos japoneses. Musashi dizia que não se deve sentir essas coisa durante uma batalha, não devemos nos deixar ser controlados por nossos sentimentos. Eu entendi isso, nos deixava fraco, alias, a mente ficava fraca e frágil diante de uma luta não podemos errar, não podemos nos deixar levar pelo nosso ódio.

A luta começou. Ele me deu um chute, depois outro, e assim começou um incrível festival de pancadas. Eu comecei a me irritar, era forte, e não me importei com seus golpes, apenas continuei a dar os meus seguidamente. Eu havia esquecido Musashi. Eu o derrubei segundos depois. Foi tudo tão rápido que mal posso me lembrar de que golpe havia dado. Mas não me senti bem ao vê-lo no chão, caído e com o nariz sangrando, não parecia estar nada bem. Meu pé tinha gotas de sangue. Me afastei. Meus amigos me abraçaram, meu sensei sorria contente, eu não dizia nada.

Eu estava no pódio, ganhando uma medalha dourada de latão, e o vi novamente, o japonês pasteleiro. Não me importei com as fotos, não me importei com o aperto de mão do ministro dos esportes mato-grossense. Fui até ele, enquanto ele caminhava para a saída, o chamei. Ele me olhou com a tranqüilidade de um ancião.

- porque parece não gostar de mim?! Perguntei.

- Você nunca entenderá uma arte marcial meu filho...

Eu havia pensando em perguntar o “porque”, mas eu sabia a resposta. Não disse nada e ele se foi.

Zé Rizzotto
Enviado por Zé Rizzotto em 14/01/2008
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