UM CONTO TRISTE SEM TiTULO

Henrique andava de um lado ao outro, estava inquieto e o ambiente quieto e frio do hospital o fazia se sentir ainda pior. Preferia o de sua casa, com seu pequeno Artur correndo de um lado ao outro, a tv ligada e o dela, sua esposa, fazendo tudo para manter a casa limpa, fazer a comida, as roupas cheirosas. Quanto medo ele sentia. O medo lhe percorria todo o corpo, seu coração estava cada vez mais acelerado e detestava aquilo. Passou a mão pela barba.

- não fique assim Henrique, ela vai ficar bem. Respondeu Tadeu, seu amigo.

Tadeu era da policia civil, e Henrique nunca havia confiado nele – ele não confiava na policia – mas ele fora o único a estar ao seu lado. Henrique se virou para ele e maneou a cabeça negativamente, a abaixando e em seguida sentiu as mãos de seu amigo. Sentiu conforto, mas tão pouco era quando a ergueu a rosto. Não sentiu nada ao ver seu sorriso.

- O carro capotou Tadeu... o carro capotou, cara. Disse de maneira tão difícil, as

palavras soavam dificilmente, a garganta parecia travar. As lágrimas vieram e ele o abraçou e chorou como uma criança. Tadeu também o abraçou, mas ele não sentia nada. Imaginava que talvez, que todo policial que havia visto o que ele vira nos 21 anos de profissão, não sentiria mais nada. Voltou os olhos ao amigo, bateu-lhe uma das mãos no ombro e com a intenção de acalma-lo:

- Força amigo. Ela ficara bem... Maria é uma mulher forte, sabe disso. Ele não havia respondido.

Ele apenas disse num gesto com a cabeça que concordava, e tentou sorrir enquanto limpava as lágrimas. Sentou-se, estava cansado, demorara a notar isso, mas estava cansado de tudo. Passou as duas mãos pelos cabelos e suspirou. O Mundo era tão louco, a vida era tão frágil. Henrique não era policial. Trabalhava no ramo de construção. Tinha uma das maiores lojas de construção da cidade. Se lembrava de Maria, quando ambos era jovens, e ele era um réles motorista, com seu caminhão entregava cimento por toda a cidade. Havia criado um império, e ela ficou ao seu lado todo o tempo, acreditou na sua garra. Lembrava-se da vida que tiveram logo que se casaram, mas ela acreditou nele. Lembrava-se do seu sorriso de menina enquanto aprendia a dirigir com ele, e da sua postura diante do espelho. Ele sabia que a amava mais do que qualquer mulher no mundo. Não queria perde-la. Curvou o tronco e apoiou os cotovelos nos joelhos, pensou em chorar novamente, mas ouvira passos, e de alguma forma estranha aquilo lhe prendeu a atenção, e quando sua face ergueu e vira seu pai entrando, seu coração acalmou. Eles se abraçaram, e Henrique pensou que como um homenzinho baixo, franzino e de cabelos brancos poderia acalmar todo aquele pandemônio na sua alma, ele sorriu e ouviu seu sussurro:

- Você a ama meu filho.

- Amo sim meu pai.

- Então ame sua esposa mais agora do que nunca, e ela vai ficar viva, pelo seu amor, a alma sente isso, sabia? Respondeu. Henrique sorriu entre lágrimas.

- Há algo que você não saiba?

- Claro... não sei trabalhar como você! Ele respondeu num tom de humor, tentava agradar o filho, que apesar de barbado, sempre seria o menino gorducho que corria pela casa, que fazia traquinagens o todo o tempo. Seria o adolescente revoltado que sumiu de casa e tentou ser de tudo nessa vida. Nem imaginava no que ele poderia se tornar. Tão diferentes, e ainda assim se adoravam. Por isso ele não foi a sua procurava quando fugira. Lembrava-se da de sua esposa louca a procura do filho e se lembrava dele sujo e com roupas horríveis na frente da sua casa junto de um caminhãozinho ridículo e sujo, com aquele cheiro estranho de cimento. Ele sorriu, acariciou o rosto do filho, e em seguida cumprimentou Tadeu. Enfiou as mãos no bolso e depois vira o médico se aproximar. As pernas de Henrique tremeram, e de seu pai também. Ele não queria ver o filho sofrer. detestava aquelas roupas largas do médico. Mas com seu uniforme verde claro de cirurgião ele se aproximava. Henrique aproximou-se, e seu pai estava logo atrás e Tadeu sentou-se. Tadeu não parecia ter mais papel ali, naquela situação tão drástica.

- me desculpe, mas tentamos de tudo. Disse o médico com certo carinho, mas Henrique não o sentiu, apenas o vazio, ficou parado, não sentia mais nada. Seu pai o abraçou por trás, tão forte e carinhoso.

Mas Henrique ele não sentiu, sua esposa havia morrido. Maria havia se ido, mas ele não acreditava na sua morte. Sentiu o vazio novamente em sua alma. Seu pai o abraçava, e ele gritou. Seu Grito, sua voz grossa ecoou por todo o hospital aquela noite. E depois Henrique chorou, ajoelhou-se e seu pai o deixou, não quis toca-lo naquele instante.

Henrique pensou em como a vida era frágil, como tudo era tão pequeno e facilmente destruído, pensava no motorista que a havia matado quanto chocou com seu carro. O jovem havia sobrevivido. Ele havia visto seus pais sorrindo e se abraçando ao saber de da sobrevivendo de seu filjo, e da Inexistência de falta de seqüelas. O médico havia se ido. Apenas sobrava Henrique, seu pai, Tadeu e um homem que esperava pela nascimento de seu filho. O homem se aproximou de Henrique agachado na sala fria do hospital. Ele se abaixo e sussurrou a ele:

- milha filha terá o nome de sua esposa... juro.

Henrique sorriu com aquilo, por alguns estantes pensou que a poderia a ter de volta. O homem se levantou e sentou. minutos depois pôde ver uma médica dizendo que sua filha havia nascido e estava saudável. Ele, Henrique, sentiu inveja, mas quem não sentira inveja de um homem que acaba de ter um filho. E seu pai, ficou a sua frente acariciando-lhe a face, euquanto dizia com carinho:

- não sei o que dizer meu filho... mas chores, ok?

Henrique chorou. Tadeu o abraçou também, e Henrique chorou, seu pai sussurrou em seu ouvido. “não se entregue, Maria o conhecia. Ela dizia você ser o melhor, não vá se entregar as fraquezas agora, seja melhor seja mais altivo a ela Henrique.

Tadeu se foi, e o pai de Henrique também. Ele se viu sozinho sem seu amor, e olhou as estrelas enquanto o desespero o atormentava. Queria fazer algo, gritar, até mesmo matar um homem que fizera aquilo com sua esposa, mas não poderia. E foi para casa. E se lembrou dela no caminho, sorrindo enquanto comia um morango e bebia um gole vinho. Lembrou de seu sorriso. Levantou-se e saiu do quintal, foi até o quarto de seu filho, e em lágrimas soube o que tinha de fazer. Teria de criar Artur, teria que criar aquele moleque. Ele acordou na madrugada. Henrique o viu, ele sorriu levemente para o pai. Mas ele não disse nada, apenas acariciou o filho e enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto disse:

- durma pequeno... amanhã há um mundo a conquistar.

Zé Rizzotto
Enviado por Zé Rizzotto em 15/01/2008
Reeditado em 15/01/2008
Código do texto: T817657