A mulher no outdoor

Vou-lhes contar a maior decepção de meu coração, porém a maior alegria para meu bolso.

Tenho trinta anos, me chamo Carlos e sou solteiro. Moro em um apartamento alugado, trabalho em uma empresa de revistas em quadrinho, não, não sou criativo o suficiente para desenvolver histórias e nem desenho muito bem, sou apenas o cara da Xerox e do cafezinho, ou seja, não ganho bem.

Era um dia comum aquele, estava no ônibus, às seis horas da manhã, indo para o trabalho, foi quando a vi, a mulher mais bela que já vi na vida. Nunca acreditei naquele papo de amor à primeira vista, mas naquele instante, tratei logo de me contra dizer. Fiquei desejando que o ônibus não se movimentasse para poder contemplar ela mais um pouco, pela primeira vez desejei ter um daqueles celulares com câmera para tirar uma foto daquele outdoor, sim, outdoor, ela estava em um, fazendo uma propaganda de uma empresa, que eu nunca tinha ouvido falar.

O ônibus andou, e eu a perdi de vista, pensei em um minuto de devaneio, descer do transporte para ficar na calçada a olhando, mas lembrei que dependia do pouco dinheiro que recebia para me sustentar. Até chegar ao trabalho minha mente permaneceu naquele outdoor, o dia fora cheio, e meu pensamento apagou a imagem dela até o fim do dia.

Passado quase uma semana, comecei a perceber que por todo caminho que fazia até o trabalho haviam colocado o outdoor dela, seria ótimo, se o rosto dela não estivesse me atormentando durante o trabalho, a noite, o dia, nos sonhos, decidi que iria pedir uns dias de folga para procurá-la, meu amigo Zeca disse que era uma busca inútil, mas eu não estava ligando para nada naquele momento.

Não tinha muito dinheiro para sair por ai passeando, então, optei pelo ônibus, com uma mochila nas costas, sai de casa, percorrendo a cidade de ônibus, procurando rastros e vestígios da minha fixação. No meu quarto dia de busca, encontrei um velho no ônibus, ele me comentou que estava cheio de ver a mulher da propaganda em todos os outdoors, confessou que a achou bonita, mas que estava cheio de vê-la, acabou por fim, falando que a tal empresa era uma rua depois, do ponto que ele iria descer. Agradeci a ele, mesmo ele não entendendo, e desci junto com o mesmo, corri uma quadra até visualizar o grande edifício da empresa.

Arrumei meu cabelo, estava muito bagunçado, finalmente a conheceria, falaria com ela. Conseguem imaginar o quanto eu estava feliz?

Foi ai que meu coração recebeu um baque, Laila, a mulher do outdoor era na verdade Charles, sim, vocês não leram errado. Deixe-me explicar melhor, Laila era criação de Charles, um desenhista gráfico que a criou para fazer propaganda da empresa.

Depois dessa terrível descoberta, fui embora com meu coração arrasado, no dia seguinte voltei para o trabalho, Zeca me perguntou se achei a mulher do outdoor, contei-lhe a história que se passou, meus colegas deram gargalhadas de meu triste engano, fiquei conhecido como o “cara com fetiche no outdoor”, virei a piada na empresa, mas só até o dia seguinte.

Acontece que minha história fora parar nos ouvidos de meu chefe, e em vez dele rir, como todos fizeram, ele me chamou em sua sala, me fez uma proposta, eu assinei um contrato e agora não sou mais o cara do cafezinho. Minha história virou quadrinho, passei a ganhar melhor depois que a história fez sucesso nos quadrinhos, meu bolso ficou feliz, meu coração arrasado, e Laila? Em meu quarto, dentro de minhas gavetas.