Relatos de um quase suicida (texto fictício)

Estava tudo parado.

Estava ali, não sabia como fui parar ali, mas era tentador.

O viaduto, o parapeito a minha disposição, concreto puro me atraindo, me chamando.

Aproximei-me vagarosamente, me encostei ali, fiquei olhando o asfalto negro com listras lá em baixo, a muitos metros de distância, tão atraente. Pude sentir meu corpo atravessando o concreto em direção a rua lá em baixo, senti um frio na barriga.

Sentei-me no parapeito, fiquei olhando o chão a metros de distância. Lá, onde vez em quando passava um carro.

Senti uma frenética vontade de pular, pensei em minha vida, alguns diriam que eu vi minha vida passando diante dos meus olhos, como uma lembrança na hora da morte.

Era minha mente, minha vontade de viver, meu coração, meu instinto pedindo mais alguns momentos. Meu inconsciente apelando, mostrando coisas das quais eu não lembrava, das quais eu jamais lembraria.

Mas o que parecia estar para sempre perdido na escuridão da memória vinha à luz da razão em um desejo alucinado pela vida, lembranças felizes, momentos de superação, como um estimulo à desistência, dando-me coragem para viver, para continuar a viver.

Me virei, coloquei os pés no chão, olhei para o céu estrelado, sentei no chão e me acomodei, fiquei algumas horas olhando o céu. Estava quase amanhecendo, levantei-me e fui para casa.