WALQUÍRIA

 

De maquiagem pesada e roupas curtas, Walquíria se prepara para sair.

Uma bolsa pequena carrega apenas o necessário para uma noite

O mesmo lugar, a mesma rua, as mesmas colegas de trabalho

Mas antes de começar, uma “carreira” para esquecer o trabalho.

 

Carros vão parar, propostas vão surgir e ela irá pelo valor combinado

No carro, no drive in, no motel ou em casa... Tanto faz.

Satisfaz ao cliente dentro do tempo.

Dinheiro na mão sem complicação.

 

De volta ao mesmo lugar e a mesma rua, poucas colegas permanecem ali.

Mais uma foi roubada, outra foi abusada por mais de quatro.

Imaginem; ela gostou.

Só saiu mais barato do que gostaria que fosse.

 

Walquíria aspira mais uma "carreira" para agüentar o resto da madrugada.

Um gole de conhaque, um novo cigarro que consome após o último.

Se a vida fosse diferente, talvez sentisse saudade, talvez sonhasse com filhos.

Mas o próximo carro espanta os pensamentos.

 

Vale tudo se a grana é alta

Interessante. Ela não é diferente dos engravatados de Brasília.

“Sou mais bela do que “fera”,

Mas aprendi as manhas do mundo que escolhi.”

 

“Faço tudo o que quiser, mas beijo na boca não dou.”

Será que o amor está na sensação que ele provoca?

“Vou reencontrar com o dia que me esconde,

E as noites continuarão a serem o mesmo abismo das minhas madrugadas.”

 

Quando o efeito passar, Walquíria continuará tentando entender o porquê das coisas serem como são.                                                                                  BH 01/03/2008