A LUA DE MEL

A LUA DE MEL

OI AMOR! ESTOU DE FÉRIAS NO TRABALHO E NA FACULDADE E A CAMINHO PARA FINALMENTE VER VOCÊ, PODER TOCAR E RECEBER O PRIMEIRO BEIJO REAL DO MEU NAMORADO. NÃO VEJO A HORA. ESPERE-ME NO AEROPORTO DO GALEÃO. A PREVISÃO É QUE EU DESAMBARQUE AÍ NO RIO DE JANEIRO ÀS 2I HORAS.

BEIJOS ANSIOSOS.

SUA LAU.

Assim estava escrito na mensagem que Lauro recebeu na hora do almoço daquela sexta-feira que antecedia um fim-de-semana prolongado até a quarta-feira da semana seguinte por conta de dois feriados no intervalo. Ele já havia combinado um churrasco com os colegas do trabalho na casa de um deles no sábado para comemorar o aniversário de casamento, mas a chegada dela não iria prejudicar em nada porque ele a levaria, se fosse o caso. Poderia apresentá-la como sua nova namorada. Já estava mesmo na hora de conhecê-la pessoalmente, depois de mais de seis meses se correspondendo pela internet.

Conheceram-se quando ele deixou uma mensagem no blog dela a respeito de um assunto de interesse mútuo. Sentiram-se atraídos e começaram o relacionamento. Nessa altura seria fácil reconhecê-la porque já tinha praticamente um álbum de fotografias dela. Era uma morena linda, de vinte cinco anos, embora aparentasse menos, a pele branquinha com sardas no rosto e os cabelos em ondas de cachos se estendiam até os ombros. Os olhos ele imaginava que fossem da cor do mel, não deu pra saber pelas fotografias. Seria a primeira coisa que ele iria verificar quando fosse pegá-la no aeroporto, depois da observação do conjunto enquanto for se aproximando, claro. Ele também ficou ansioso pela perspectiva do fim-de-semana prolongado com ela. Tomara que se entendessem pessoalmente.

Saiu correndo do trabalho, tomou um banho e foi logo para o aeroporto. Não queria correr o risco de chegar depois de o avião em que ela vinha aterrissasse. Se ela se afastasse do local de desembarque poderiam se desencontrar e tornar mais difícil o reconhecimento.

Mas quando ele chegou ao aeroporto ficou assustado, estava instalado o caos. Uma tremenda confusão, muita gente reclamando, pessoas sentadas no chão, nas malas, um burburinho incrível, parecia uma feira. Ele ficou desanimado. A espera foi longa e cansativa, tomou muito café para se manter acordado. Por volta das três horas foi anunciada a chegada do avião em que ela estava. Finalmente, não agüentava mais a movimentação dos quadrinhos das listas de arrival e departure.

Ele a reconheceu assim que se aproximou da saída. Chamou-a pelo nome e ela acelerou o passo, quase correu, para encontrá-lo. Ficaram se observando por alguns momentos, os olhos ficaram se procurando e ele descobriu que os dela não eram da cor do mel e sim castanhos. O primeiro beijo chamou a atenção das pessoas que passavam por eles e provocou comentários, eis que, desinibido, durou longos minutos. Depois, deram-se as mãos e sorriram confirmando a aceitação mútua. Ela disse que estava morta de fome e ele empurrou o carrinho com a bagagem dela em direção a uma lanchonete. Ela contou sobre os percalços da viagem, a longa espera, principalmente em Salvador onde houve uma escala e troca de avião. Disse que leu três revistas, não agüentava mais esperar, principalmente por que estava preocupada com ele e muito chateada porque se esqueceu de pedir o seu número do celular. Já estava com as nádegas doendo de tanto ficar sentada.

Enquanto ela falava, ele ficou observando o rosto dela, o jeitinho gracioso de falar. ”É realmente muito bonita, tomara que dê certo, ela é melhor do que eu imaginava “– pensou. Estava encantado. A caminho do apartamento dele foram conversando sobre o prazer de estarem finalmente juntos, sobre a expectativa que antecedeu o encontro. Ela confidenciou que ele era como ela estava imaginando, sonhando. E ele, galanteador, disse que ela era muito bonita, além do que imaginava e não via a hora de poder amá-la de verdade.

O dia seguinte amanheceu ensolarado e eles acordaram muito tarde, felizes pela primeira noite juntos, embora o encontro sexual não tenha acontecido por conta de terem chegado muito cansados. Já era quase meio-dia. Tomaram banho juntos e depois foram correndo para o churrasco combinado, onde ele a apresentou aos amigos com quem logo ela se enturmou. Ficaram na festa até o meio da tarde, porque quando chegaram já tinha começado. Depois resolveram que não iriam passar o final de semana no Rio, iriam viver a lua-de-mel em Campos do Jordão.

Chegando lá, foram direto pra um hotel indicado por um amigo dele. A atendente começou a digitar os dados a partir das respectivas identidades.

- Vou hospedá-los no quarto 402, tem uma varanda que dá vista para o jardim, recebe a luz da manhã e tem duas camas de solteiro. Tá bom assim? – Perguntou a empregada do hotel.

- Quarto de casal com duas camas de solteiro! Por quê? – Lauro perguntou.

- O senhor não é pai dela? Preferem quartos separados?

- Eu não estou entendendo, moça. Nós somos namorados e queremos ficar num quarto com cama de casal – ele disse.

A Lau ficou olhando ora pra um ora pra outro com sorriso nos lábios, estava achando engraçada a situação.

- Desculpe-me senhor, mas ela tem o seu sobrenome, pensei que fossem pai e filha...

- Vou dizer pra minha mãe que eu encontrei o meu pai quando voltar – Lau disse brincando com ele.

- Tá bom senhorita, não fiquei zangado, mas nós preferimos, obviamente, um quarto com cama de casal – ele disse.

- Então, por conta da minha gafe eu vou lhes dar o melhor quarto, pelo menos é daquele que mais gosto, vocês vão ficar no 604, uma suíte magnífica.

- Então está ótimo – disse ele.

Foram levados para o quarto. Mas a situação desconfortável criada pela atendente por conta dos nomes deles deixou o Lauro curioso, embora a Lau, aparentemente, não tenha se importado com o episódio. Quando ele fechou a porta pediu para olhar a identidade dela. Chegou a ficar zonzo. Estava lá o nome da mãe dela, sem o nome do pai. Sentou-se na cama e ela sentou-se ao seu lado passando a mão no rosto dele.

- O que foi meu amor? Não está se sentindo bem? – Ela perguntou.

- Ele olhou pra ela, pegou o seu rosto entre as mãos e falou: você sabe o que estivemos perto de fazer?

- Não, por quê? Estou ficando nervosa, me diz o que é?

- Nós estivemos perto de ter relações sexuais, e eu acho que você é realmente minha filha, a não ser que a tua mãe seja outra mulher com o mesmo nome de uma namorada que eu tive e que também foi morar em Fortaleza, seria muita coincidência. Parece que o destino deu um jeito de a gente se encontrar, pior que quase provocou um grande problema, mas ele soube contornar as coisas, apesar de tudo. Primeiro foi o atraso do avião, depois o fato de termos acordado atrasados e agora a atendente deste hotel.

- Não é possível, você está brincando! Isso é muito cruel. Eu estou apaixonada por você, muito feliz por ter encontrado o homem ideal. Por que tinha que ser assim?

- Pior que eu também me apaixonei por você, e acho que vamos ter que modificar os nossos sentimentos, transformar a paixão em afeto. Ainda bem que não conseguimos realizar de imediato as nossas intenções. O máximo que fizemos foi nos beijarmos e dormirmos juntos. Já pensou se a sua mãe soubesse disso?

- Ela vai saber. Eu conto tudo pra ela e se você for realmente meu pai eu quero só ver a cara dela. Ela me disse que o meu pai tinha morrido. Por isso a minha certidão de nascimento só tem o nome dela. Conte-me como foi que aconteceu o caso entre vocês, isto é, se for ela mesmo.

- Nós éramos muito jovens, tínhamos cerca de quinze anos, éramos colegas de colégio e começamos a namorar. Inexperientes, ela acabou engravidando.

Os pais dela eram muito rígidos não deixaram que ela abortasse e mandaram que fosse morar com uma tia lá em Fortaleza e eu nunca mais a vi. Não contei pra ninguém que ela tinha engravidado. Na verdade nunca soube do resultado da gravidez, porque, não demorou muito, os pais dela também foram embora e eu nunca mais tive notícias.

- Agora, quando eu vi a sua identidade, estou quase certo que eu sou teu pai. Laurenilma é a junção de Lauro com Nilma. Ela fez de propósito quando escolheu esse nome pra você.

- É meio esquisito mais eu gosto dele, agora mais.

- Ela ainda usou o meu sobrenome. Acho que isso é uma prova do amor que ela sentia por mim. Queria deixar registrado de alguma forma. Ainda bem que não fizemos nada de mais, repetiu. Só os beijos.

- Acho que você é meu pai mesmo. Que azar! - Falou de olhos fechados, deitada de costas na cama, com medo de não se controlar caso os abrisse- Foi assim mesmo que ela me contou a história de vocês, sem tirar nem por. Inclusive a causa do meu nome. O pior é que eu estou gamada no meu pai e por isso num grande dilema. Não sei se finjo que não sabemos de nada e continuamos ou se tento transformar o amor como você disse. De uma coisa estou certa papai, adorei ser beijada por você e estava louquinha pra fazer amor contigo. Você é muito experiente isso eu percebi pelos beijos e pelas carícias que você me fez, foi maravilhoso.

- Você é linda, mas eu não vou conseguir mais beijar você na boca, muito menos fazer amor contigo. Acho até que você deveria vestir as roupas. Não fica bem a filha ficar desfilando nua na frente do pai - apesar de ela já ter, instintivamente, coberto o corpo com uma parte da colcha.

- Quando a minha mãe perguntar como foi o meu encontro com o meu amado eu vou dizer que o homem que encontrei no Rio não era a pessoa que eu esperava, mas conheci outro homem que agora gosto como meu pai.

Abraçaram e ele deu um beijo no rosto dela, choraram e ficaram assim por um bom tempo.

- Acho melhor, agora, nós jantarmos e depois dormirmos – ele disse.

- Vai ser diferente dormir contigo hoje nessa cama de casal. Ontem eu dormi nua, agarrada com meu namorado, também nu, lindo por sinal. Hoje vou ter que dormir vestida, na mesma cama com meu pai.