A TRANSFORMAÇÃO

A TRANSFORMAÇÃO

Alex levantou-se da cama na hora de costume. Como sempre, com uma vontade terrível de urinar. Foi cambaleando para o banheiro, estava se sentindo meio enjoado. Como fazia todos os dias, esvaziava a bexiga e depois ia preparar o café para ajudar a despertar.

Abaixou a calcinha até o meio das pernas. Sentou no vaso e cortou um pedaço de papel higiênico, dobrou três vezes para não molhar a ponta dos dedos. Enxugou-se e depois levantou-se do vaso e desenrodilhou a calci... Calcinha!

Despertou de vez, quando reparou na peça íntima e nos seios pontudos que não estavam ali quando foi dormir. Com o coração acelerado, virou-se para o espelho sobre a pia para verificar se era ele mesmo.Viu a imagem de uma mulher com os seios empinados, dois botões imensos, iguais ao da garota que tinha visto no filme na noite anterior, um espetáculo! Os cabelos cacheados pendentes até o ombro, os olhos azuis, a boca pequena, lábios bem desenhados. Passou a mão no peito e ela passou a mão nos seios, olhou para baixo e constatou que não tinha mais o pênis. Seu companheiro desde que nasceu tinha se transformado num bem desenhado órgão genital feminino. Virou de lado para examinar o bumbum... Perfeito! A garota do espelho fez o mesmo. Abriu a porta do banheiro para conferir o quarto. Sem dúvida era o dele. Não estava entendendo nada. Tinha virado mulher. “E agora, o que eu vou fazer? Onde eu arrumei esta calcinha?”- Pensou.

Foi para o quarto e examinou-se de novo: os seios, o púbis - aparadinho. O sexo estava ali, bem diferente do que tinha antes de dormir. O corpo livre de pelos e a pele macia... “Nada mal! Nada mal uma ova! Nunca fui mulher na vida, nem no carnaval. Não tenho experiência nenhuma. O que eu vou dizer pros meus amigos? Abandonar o emprego? Não poderia chegar lá no Banco e falar pro gerente: Olha, eu sou o Alex! Não sei o que aconteceu, mas eu virei mulher. Provavelmente ele iria gostar. Metido a garanhão do jeito que ele é...O que é que eu vou fazer? Caracas! Ligar pra Marcela? Pedir a ela pra vir aqui? Naturalmente foi praga da mãe dela, minha sogra, aquela jararaca. Pode até ter encomendado um trabalho. Eu estou com um problemão meu Deus! O que é que eu faço?”

Abriu a gaveta do armário do banheiro: escovas de cabelo, batons, coisas de mulher. Correu para o quarto abriu o guarda-roupa. Suas calças e camisas se transformaram em vestidos, as cuecas em calcinhas, diversos modelos, cores e padrões, vermelhas, brancas, com florezinhas... Abriu a gaveta de meias. Adivinhe! Femininas, lógico. Abriu a sapateira. Não deu outra, um festival de sandálias e botas. Tinha um par de pantufas rosa ao pé da cama.

Ficou desesperado. Ligou para a Marcela, mas foi um homem quem atendeu. Falou que lá não morava nenhuma Marcela e ele queria dormir. “Devo ter teclado errado” – pensou. Ligou de novo. “Sinto muito, mas a senhora ligou errado de novo, justamente quando eu estava pegando no sono. Vou deixar o telefone fora do gancho”– disse o interlocutor. “Ele disse senhora? Que desaforo!”- esbravejou. Ligou de novo. Ocupado.

Sentou na beirada da cama, nu, nua. Já estava totalmente confuso. Lembrou de olhar no cesto de roupas para lavar. Na certa estariam lá as cuecas e as camisas que ainda não tinha lavado. Levantou a tampa, calcinhas enroladas, blusas, sutiãs... Foi andando desolado para a sala e abriu a janela para respirar ar fresco para ver se acalmava. Deu de cara com a senhora que morava no apartamento em frente que, simpática, lhe desejava bom dia todas as manhãs. A velha arregalou tanto os olhos que quase lhe saltaram das órbitas. Então, ele se deu conta que estava sem roupas e que agora tinha seios. Cobriu-os com a mão e o braço esquerdos. Deu um gritinho que só serviu para deixá-lo mais preocupado ainda e fechou rapidamente as cortinas com a mão direita.

Sentou-se muito confuso no sofá da sala, pensando no que poderia fazer. Acordou uma hora mais tarde com o barulho infernal do trânsito na rua. Estava nu e muito atrasado. Não dava tempo para fazer café, nem tomar banho. Enfiou uma cueca que estava por cima, na gaveta, a calça, a primeira camisa que alcançou no armário, pegou uma maçã na geladeira e saiu correndo, feliz da vida porque era homem de novo. Tivera um sonho terrível, um pesadelo.